domingo, 30 de setembro de 2007

E você com isso?

Alguns dos leitores devem me conhecer do blog mais recente que já fiz. O Blog do Deu no Jornal foi meu primeiro blog profissional, feito a partir de minha primeira semana como coordenador do projeto Deu no Jornal, da Transparência Brasil. Ali, eu comentava o noticiário sobre corrupção, apontava possíveis fontes de pautas para a imprensa e chamava a atenção para pontas soltas no noticiário. De vez em quando, também colocava algum vídeo de música, porque ninguém é de ferro.

É do Deu no Jornal que trago algumas idéias que pretendo desenvolver aqui. Além de mostrar o que ando fazendo - e não é pouca coisa -, também quero aprofundar um pouco a discussão sobre alguns fatos nacionais. Alguns leitores do Deu no Jornal reclamavam do fato de eu opinar pouco lá. Faz algum sentido. Mas acredito que há opinião demais nos blogs que há por aí.

Este blog será um pouco mais pessoal, mas eu não consigo dissociar o que penso do que já pesquisei a respeito. Não gosto de opinar sobre o que não pesquisei um pouco mais a fundo. E o que eu quero fazer neste blog é justamente socializar as ferramentas que eu uso para qualificar o meu grau de conhecimento sobre os assuntos de que trato aqui. Com isso, você também pode saber de que cartola eu tirei o coelho, e ao observar isso também poderá apontar meus erros com precisão quando eu errar.

Tenho uma relação de amor e ódio com a chamada "blogosfera". Amor porque enxergo todas as possibilidades da ferramenta e as grandezas da possibilidade de qualquer cidadão que tenha o que dizer ter uma forma de se expressar para um grande número potencial de leitores. Ódio porque, na minha avaliação, todo o debate sobre blogs é demasiadamente mal-focado porque descuida das questões da qualidade da informação e do que, realmente, vem a ser um blog.

A vertente mais confusa dessa questão é o falso debate sobre se blog é ou não jornalismo. É um falso debate porque é comparável a apontar resmas de papel impresso e dizer que aquilo tudo é jornalismo. Nem sempre é: pode se tratar de livros, histórias em quadrinhos, panfletos políticos, folhetos publicitários, cartas de amor, coletâneas de piadas... e às vezes até mesmo algum jornalismo, por que não? Só que nos meios impressos nós já sabemos há séculos que o que define o caráter de cada um é o conteúdo que expressa. A internet, mesmo com mais de dez anos de abertura ao público no Brasil, ainda é jovem o suficiente pra embaralhar a cabeça de muita gente boa.

Este blog pretende ser eminentemente jornalístico, porque é o que eu sei fazer melhor profissionalmente, embora ninguém aqui seja de ferro. Além de fazer jornalismo, eu também traduzo histórias em quadrinhos e ouço muito Deep Purple. Por isso, este blog também terá um tanto de nerdismo. Nesse ponto, quero ir contra a acachapante maré do óbvio: o fato de eu ser um jornalista sério não impede que eu traduza gibis de super-heróis ou que eu curta uma banda de senhores de idade. Mas o fato de eu ser um jornalista faz com que eu enxergue coisas relevantes nesses fenômenos dos quais estou próximo e eventualmente tenha algo a dizer sobre eles.

Não conte com o óbvio, portanto.


Please allow me to introduce myself

"E Você Com Isso?" será o quinto ou sexto blog de que já participei em toda minha vida.

O primeiro, também aqui no Blogger, era uma experiência com a linguagem do blog ao mesmo tempo em que serviu como uma forma de me manter focado, num tempo em que fui freelancer em Porto Alegre. Não dá pra dizer que ele tinha um tema central, porque eu escrevia sobre tudo o que me dava na veneta. Seu tema mais recorrente do primeiro ano - os altos e baixos do Deep Purple - virou um outro blog. O original continuou rolando até que passou a correr o sério risco de virar um diário esporádico. Quis me livrar dele, mas tem tantas memórias boas em seus arquivos (incluindo as da época em que conheci minha esposa) que hoje ele só serve como aquilo que os jornalistas americanos chamam de "morgue".

O Purpendicular, que eu mantenho até hoje, tem sido uma experiência interessante. Meu lado nerd, que é bastante vasto, é fanático pelo conjunto inglês Deep Purple. Em meu primeiro blog eu falava tanto sobre as peripécias de Ian Gillan e seus companheiros que os amigos boiavam e reclamavam. Criei, assim, uma revista eletrônica sobre o grupo. Tem relativo sucesso, especialmente quando o Deep Purple resolve vir a São Paulo. Desde que o Purpendicular foi criado, além de experimentar com vários novos recursos da internet, como vídeos e podcasts, também tive a oportunidade de traduzir o site do Gillan e conhecer pessoalmente meus músicos favoritos. Não é pouca coisa.

Participei de outros blogs, mas foram basicamente essas três experiências blogueiras que formaram minha opinião sobre o que é e para que serve um blog.

Não são só essas experiências que informam esse trabalho. Afinal, uso a internet praticamente todo dia há 12 anos, desde que o acesso era feito "a lenha", na feliz expressão do Serginho Moreira. Aqui, acho que vale a pena me apresentar melhor. Acho que nem os leitores do Deu no Jornal sabiam direito quem eu sou.

Comecei a acessar a internet e descobrir suas potencialidades em 1995, nos XPs de letrinha verde do laboratório do CPD da UFRGS, a uma quadra da faculdade. A Angie Freitas foi quem começou a me desencaminhar, quando na primeira semana de aula do primeiro semestre da faculdade ela me informou que tinha uma tal de internet onde os alunos podiam criar contas de email. E eu achava que Email era o nome de algum rabino. Dois anos depois, ao lado do Serginho e por indicação do mestre Telmo Flor, saí do telex do Correio do Povo para ajudar a implantar o primeiro site do jornal. Justiça seja feita, ainda hoje o site tem a mesma cara.

No final da minha adolescência, li muito Bakunin e tinha horror à política. Não queria cobrir política, porque todos os meus colegas que tinham vontade de ir para a área eram de certa forma militantes partidários. Para mim, sempre foi muito claro que militância partidária e jornalismo não têm nada a ver. Em 2000, fui selecionado para o programa de treinamento da Folha de S.Paulo para formar jornalistas econômicos. Quando terminou o curso, fui encaminhado para uma ótima vaga como redator de política. A princípio, fiquei possesso. Em menos de uma semana cobrindo política, fiquei fascinado. Era também o começo da popularização dos sites políticos no Brasil, e ainda havia uma eleição à frente. Sem falar nas urnas eletrônicas e suas possíveis falhas.

Fiquei fascinado com as possibilidades, e desde então sempre estive profissionalmente próximo à cobertura política. Não duvido que o fato de eu desconfiar de absolutamente todas as facções políticas (alguma herança de Bakunin, talvez?) me ajude a manter uma saudável distância crítica do objeto que cubro.

Depois de sair da Folha, tive várias honras na vida. Ajudei a criar a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo e fui correspondente do Centro Knight para o Jornalismo nas Américas num tempo em que trabalhei como freelancer em Porto Alegre. Em 2004, tornei-me o primeiro gerente da Abraji - e instrutor de reportagem com o auxílio do computador esporadicamente. Por obra do meu grande amigo Claudinho Tognolli, cheguei até a dar algumas aulas na USP sobre isso.

Em 2006, tive a honra de esboçar e depois coordenar o projeto Excelências, da Transparência Brasil. Além de influir com força nas eleições de 2006, o projeto experimentou com outros aspectos da linguagem da internet - principalmente a possibilidade de retrabalhar vários bancos de informações públicas para facilitar que os cidadãos em geral possam fiscalizar os políticos que elegem. Sem falar que ele me levou ao palco do Prêmio Esso de Jornalismo pela primeira vez na vida pouco antes de completar 30 anos, o que definitivamente não é pouca coisa.

E você com isso?

Estou bastante otimista com este novo blog. Ele terá heranças de cada uma das coisas que já fiz e aprendi usando a internet em toda minha vida. Terá heranças de tudo o que fiz e aprendi profissionalmente. E também terá certamente novas contribuições. Espero sinceramente que seja um blog interessante.

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