Hoje, a Folha publicou uma matéria meio café-com-leite sobre a polarização dos blogs políticos (aqui, para assinantes). A pauta é boa e relevante, mas a matéria ficou superficial, declaratória demais. Ela vai pouco além da constatação de que há uma polarização. A melhor constatação é a da estudiosa Alessandra Aldé, na sub: "Parte dos leitores de blogs estão ali como se fossem torcida de futebol" (aqui, para assinantes).
Também hoje, respondi a um questionário da estudante Denise Moura sobre blogs jornalísticos. Lá pelas tantas, ela perguntava se blogs de jornalistas são necessariamente opinativos. Imagino que ela estivesse se referindo especialmente aos mais empolgados em suas opiniões. Respondi que acho interessante que haja de tudo, mas que "a função do blog opinativo costuma ser mais a de apontar o dedo do que a de apurar informações".
Neste aqui, por exemplo, minha opinião é secundária. O que eu acho sobre personagens vale tanto quanto o que cada um de vocês acha, portanto seria perda de tempo sair xingando. O que eu mais gosto é de montar quebra-cabeças, que julgo ser algo que possa ser útil pra todo mundo. Também mencionei que os blogs polarizados costumam fazer mal ao meu fígado, por isso não os leio. Há tanta coisa mais esclarecedora pra ler e a vida é tão curta...
Minha opinião a respeito é a seguinte: acho um retrocesso absurdo chegar até a internet pra voltar o ponteiro do jornalismo ao que se fazia no século 19.
Como é?
Acho que esse acirramento opinativo dos blogs lembra um tanto o que se fazia na imprensa brasileira no século 19, quando tanto a imprensa quanto o estado brasileiro estavam em fase de definição. Não se sabia direito nem o que era fazer jornal e nem o que era fazer política, então a coisa descambava pra baixaria. Estamos numa situação mais ou menos parecida no Brasil, com a transição no jornalismo (tecnológica e de modelo de negócio) e a crise da representação política.
Esta é a sinopse do livro "Insultos Impressos", da historiadora Isabel Lustosa, que pesquisou a fundo a imprensa do período:
- "Os anos de 1821 a 1823 representam um momento decisivo nas relações entre Brasil e Portugal. É o momento de definição da independência da Colônia, mas é também quando começa a se esboçar, de forma um tanto atabalhoada, uma hesitante democratização dos costumes políticos, via constituição de uma imprensa que servirá de palco para o debate de idéias, ideais e interesses particulares ou de grupos. De um lado, estará em cena a elite monárquica dominante; de outro, os proprietários rurais fluminenses, paulistas e mineiros, aliados aos burocratas e comerciantes portugueses e brasileiros estabelecidos na corte. É sobre essa arena que o livro de Isabel Lustosa lança seu foco. Estudando a imprensa brasileira da época, ela delineia os principais vetores da formação de nossa prática política e dos fatores que conduziram à Independência. Numa nação, o Brasil Colônia, em que a imprensa estava proibida desde 1808, dois acontecimentos simultâneos - a abertura de um espaço para debate público (e sobretudo impresso) e a convocação de uma Assembléia para restringir o poder da Coroa - representam um salto que a nossa 'intelligentzia' era incapaz de dar sem traumas. Figuras de grande destaque pelejavam com ilustres desconhecidos, cada um tentando impor suas idéias aos outros e, acima de tudo, mandar seu recado e conselho ao imperador. A discussão com freqüência enveredava pelo terreno pessoal, transformava-se em calúnia e difamação e chegava mesmo à agressão física. Nessas condições, a imprensa era um grande laboratório onde, segundo um ditado da época, aprendia-se às custas da nação como 'o barbeiro novo nas barbas do tolo'.
Não parece um cenário mais ou menos familiar?
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