Escrevi outro dia, em resposta a um comentário sobre o caso do padre Lancelotti, que considero a religião um assunto de foro íntimo tanto quanto a sexualidade de cada um (dois ingredientes da história até agora mal-explicada no tocante ao motivo pelo qual o padre cedeu por tanto tempo à extorsão de um moço entre tantos infratores com quem trabalhou). Ou ao menos assim o seria num mundo mais saudável.
Embora lógica, a observação é naturalmente polêmica, porque o exercício da religião (ou da negação a ela) é um dos aspectos mais tradicionalmente públicos do foro íntimo e mais fundamentais da liberdade de pensamento. Como faz parte do senso comum associar crenças pessoais a valores universais, isso tem fortes implicações políticas.
A Economist que saiu lá fora na quinta-feira dedica a capa e um relatório especial a observar as interconexões entre religião e política. Um trecho do editorial de capa desta semana:
- "A idéia de que a religião reemergiu na vida pública é até certo ponto uma ilusão. Ela nunca foi embora de verdade - certamente não no grau em que os políticos franceses e professores universitários americanos imaginavam. Seu novo poder é em grande parte a conseqüência de duas mudanças. A primeira é o fracasso dos credos seculares: a volta da religião à política começou durante os anos 1970, quando a fé no governo ruía em toda parte. Segundo, embora algumas teocracias sobrevivam no mundo islâmico, a religião voltou ao palco como uma questão muito mais democrática e individualista: um sucesso de marketing da base para o topo, surpreendentemente afinado com a globalização. O secularismo não era tão moderno quanto muitos intelectuais imaginavam, mas o pluralpismo é. Torne a religião livre e tanto os crentes fervorosos quanto os ateus ardentes se darão bem.
Do ponto de vista liberal clássico, essa multiplicidade de seitas é uma boa coisa. A liberdade de consciência é um axioma do pensamento liberal. Se o homem é um animal teotrópico, inclinado a acreditar no além, é certamente melhor que ele possa escolher sua fé ao invés de ter de seguir a ordenada por seu governo. Mas isso torna a religião uma força complicada com a qual lidar. Na política interna, adultos que decidam tornar-se evangélicos, judeus ortodoxos ou fundamentalistas muçulmanos são muito menos propensos a esquecer tais crenças quando vão às urnas. As guerras culturais com as quais os Estados Unidos já se acostumaram podem se tornar um fenômeno global; espere batalhas ferozes sobre a ciência, em particular."
2 comentários:
A "Economist" está cada vez mais esquisita. O Zappi, lá da Austrália, na~eo exagerou ao chamá-la de petralha...
O editorial me pareceu até bem ponderado na descrição da sinuca atual. Ainda não tive tempo de ler o material inteiro pra fazer um juízo mais completo.
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