Até hoje, o ministro Walfrido dos Mares Guia, das Relações Institucionais, era o homem que negociava a votação da CPMF com os senadores. Tudo na mais perfeita normalidade.
Claro que nem tão normal assim. Era questão de dias para o Ministério Público entregar à Justiça a denúncia sobre o valerioduto mineiro das eleições de 1998. Aliás, demorou bastante mesmo pra sair a denúncia. Desde o começo se sabia que Mares Guia estaria implicado, porque foi ele o coordenador da campanha do tucano Eduardo Azeredo à reeleição - campanha esta onde Marcos Valério surgiu como o ás das finanças. Ele diz que sua participação foi fazer um empréstimo ao amigo, do próprio bolso, pra cobrir as dívidas de campanha. Nunca cobrou. Tudo na mais perfeita normalidade.
Em agosto o Supremo aceitou a denúncia do caso do Mensalão, vendo indícios de que haveria cooptação de políticos por parte do governo, para garantir votações importantes. Já se falava em abrir o processo do valerioduto mineiro. Já se falava em incluir Mares Guia no processo (aliás, qualquer um que tenha lido "O Operador" sabe bem disso). Mares Guia referiu-se a essa possibilidade dizendo que não respingaria no governo. Tudo na mais perfeita normalidade.
A denúncia foi oferecida hoje pelo Ministério Público Federal (baixe aqui a íntegra da denúncia). O inquérito já corria no STF, em segredo de Justiça - revogado hoje. Já hoje no Estadão, fontes do partido de Mares Guia informavam que o ministro iria entregar seu cargo para se defender das acusações. O líder do governo na Câmara minimiza: "É uma questão pessoal", disse José Múcio Monteiro. "Ele tem desempenhado um trabalho ótimo para o país e é uma peça imprescindível para o presidente Lula". Tudo na mais perfeita normalidade.
O senador tucano Eduardo Azeredo lascou insinuações de motivações políticas, com a proximidade da votação da CPMF. Pessoalmente, eu não consigo alcançar o raciocínio dele a respeito, considerando que o que o governo mais quer é exatamente não melindrar a oposição tucana nesta hora, justamente para ganhar a simpatia deles na votação da CPMF. Mas esse tipo de insinuação é parte integrante da mais perfeita normalidade.
O valerioduto é o mais suprapartidário dos escândalos políticos do Brasil. Demorou para que a perna mais antiga do valerioduto fosse denunciada. O maior risco, porém, é essa mais nova perna denunciada caducar antes de ser julgada, como é comum no país. Tudo na mais perfeita normalidade.
- EDITADO: A lista dos denunciados no caso do valerioduto mineiro não inclui João Heraldo Lima, apontado no livro de Lucas Figueiredo como uma figura importante mas obscura do esquema. Escrevi a respeito no blog do Deu no Jornal, no ano passado.
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