Descarrego

O jornal baiano Correio da Bahia, de propriedade da família do falecido senador Antonio Carlos Magalhães, quer perder o estigma sectário, informa o Comunique-se. Para isso, contratou a consultoria espanhola Innovation, que já prestou serviços aos jornais La Nación, Libération e O Globo.

As mudanças serão gráficas e editoriais. "As pesquisas mostravam que a política não interessa tanto aos leitores. E sempre valorizamos muito essa área", afirmou ao site o diretor de redação do jornal, Demóstenes Teixeira.

O jornal era completamente identificado com a linha política do senador baiano, lembrando às vezes os panfletos do século 19. Uma pesquisa feita em 2006 no banco de dados do projeto Deu no Jornal, da Transparência Brasil, mostrava que o jornal só passou a cobrir corrupção mais intensamente a partir do escândalo do Mensalão, que atingiu o PT - partido historicamente de oposição a ACM. Pronunciamentos do senador eram sempre notícia, como este aqui.

Enfraquecido politicamente desde que se envolveu num escândalo de fraude do painel de votações do Senado, em 2001, o senador já vinha perdendo poder político há muito tempo antes de morrer. Mas o jornal permanecia firme na afirmação da linha política dos Magalhães. Quando o concorrente A Tarde publicou reportagens sobre uma sala secreta onde governadores aliados de ACM engavetavam processos contra políticos, o Correio da Bahia publicou apenas notícias negando o fato.

"Durante muito tempo esse jornal serviu de fato como porta-voz político. Hoje não há mais razão para isso. ACM morreu. Temos que tratar isso aqui como um veículo e fazer de fato jornalismo", disse Teixeira.

Isso não significa que a família tenha deixado de lado seus interesses políticos e empresariais. Antônio Carlos Magalhães Júnior faz parte do conselho de administração do Correio, ao lado de Teixeira, e ocupa a cadeira do pai no Senado. ACM Neto é um conhecido deputado, desde as CPIs do caso do Mensalão. Outro filho de ACM, Júnior Magalhães, é deputado estadual na Bahia.