sexta-feira, 7 de março de 2008

Centenário de um gigante


    "Não creio que o papel principal de um jornalista livre numa sociedade livre seja expor a sujeira. Isso é apenas parte do trabalho, suponho. O verdadeiro problema é fornecer uma compreensão maior das complexidades em que seu país, seu povo e sua época estão envolvidos. Nosso trabalho é traduzir essas questões, estudá-las. O trabalho principal não é desgraçar ninguém, nem difamar ninguém, e sim fornecer compreensão."

O trecho acima é de I.F.Stone, polêmico jornalista americano que teria completado seu centenário em dezembro. Sou fascinado pelo trabalho dele há uns dez anos, desde que li um artigo sobre sua metodologia de reportagem, mergulhando em documentos oficiais para achar as lacunas que as aspas tentam encobrir. Depois, fui atrás de tudo o que pude achar do que ele escreveu. Para ele, ávido leitor de Kropotkin na juventude, "todos os governos mentem, e não se deve acreditar em nada do que eles dizem".

Na próxima semana, haverá um evento na New York University em comemoração à efeméride. A Fundação Nieman acaba de criar um prêmio a jornalistas independentes homenageando o velho mestre. E a família pôs no ar um site com informações sobre a vida e carreira de Stone - e alguns exemplares do I.F.Stone's Weekly, o jornal que ele editou independentemente em Washington durante vários anos - mantendo-se praticamente só com a boa receita das assinaturas.

Stone era uma figuraça. Foi um cara que apoiou causas erradas e depois teve a macheza de mostrar os erros - com apuração própria. Já aposentado, usou o mesmo método para reconstruir o Julgamento de Sócrates. Ele aprendeu grego arcaico para ler no original os poucos textos que restam falando do assunto em primeira mão. Neles, achou os mesmos tipos de lacunas que achava a respeito das justificativas para os EUA irem à guerra do Vietnã. Já é um projeto de aposentadoria, não?

(Não deixe de ler esta genial auto-entrevista em que ele descreve o método de pesquisa utilizado para o livro.)

O site feito pela família não é tão completo quanto o feito em homenagem ao colunista Carlos Castello Branco, mas está bem bom. Destaco dois exemplares do I.F.Stone's Weekly ali disponíveis: a última edição, de 1971, onde Stone faz um balanço de sua carreira, e uma de 1968 em que ele usa sua poderosa metodologia para chegar à seguinte conclusão sobre o episódio do Golfo de Tonkin: "só sabemos que fomos nós que atiramos primeiro".

3 comentários:

natalie catuogno consani disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Marcelo disse...

Seja bem-vinda e volte sempre!

Clica nos títulos dos livros. O link leva a eles na Livraria Cultura. O "O Julgamento de Sócrates" está baratinho. Pode ser achado em qualquer livraria que tenha um expositor da coleção popular da Companhia das Letras, a Companhia de Bolso. Tem outros títulos muito bons na coleção.

Os outros dois eu sugeriria procurar na Amazon. Para tu teres uma idéia, o "All Governments Lie" eu comprei por US$ 0,10, novinho, no mesmo ano em que foi lançado, no serviço deles de busca em sebos. Como o transporte saiu por US$ 10, foi só lucro.

natalie catuogno consani disse...

ai, obrigada! eu cliquei nos links 10 segundos depois de postar a pergunta!!! ahaha
nossa, vc comprou por US$ 0,10?? vou procurar já!

bacana seu blog! e o post!
bj