domingo, 2 de março de 2008

Com sede ao pote (ou Crise nas Infinitas Terras)

Grampeado pedindo "dinheiro de roubo, de corrupção" ao diretor de recursos humanos da Assembléia Legislativa de Alagoas, o ex-deputado estadual Gilberto Gonçalves (PTN-AL) nega tudo, mas resume: "A política foi uma cachaça que tomei."

O Nélio acha que o presidente Lula parecia visivelmente embriagado de política quando disse que o Judiciário não tinha nada que se meter nos negócios do Executivo. E, hoje, na Folha, o Clóvis Rossi observa a reação inglesa ao vazamento da ida do príncipe Harry à guerra do Afeganistão e a compara ao caso da violação do sigilo do caseiro Francenildo em benefício do ex-ministro Antonio Palocci.

A maioria dos leitores deste blog certamente não lê quadrinhos, então talvez não tenha lido a saga Crise nas Infinitas Terras e suas derivadas. Durante décadas, a editora de quadrinhos DC Comics foi atualizando e comprando personagens. Para que os novos não contradissessem os velhos, ela foi criando terras paralelas, que de vez em quando se encontravam. A primeira Crise foi uma tentativa de unificar tudo isso. Saiu por aqui mais ou menos na época da Constituinte. Agora, está sendo publicada nos EUA a quarta ou quinta megassaga tentando resolver a coerência dos heróis.

Na política brasileira, temos mais ou menos a mesma questão. A começar pelo título de uma série recente dessas da DC: "Crise Infinita". A crise infinita brasileira se dá pelo fato de os políticos viverem numa Terra paralela em relação à dos cidadãos. Elas só se tocam de dois em dois anos, nas eleições. Tanto que eles estranham quando alguém tenta fazer a Terra deles ser mais visível na dos cidadãos.

Eu acho que não são necessariamente duas terras paralelas. Possivelmente, os políticos enxergam dobrado como efeito de ir com muita sede ao pote da cachaça do poder. Enxergando duas Terras, acham que a deles obedece a uma determinada lógica, diferente da que se percebe na Terra dos cidadãos.

O problema é quando vem a ressaca.

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