Amanhã começa de novo. Imprima e leve para o carro.
- Venda de carros tem o melhor janeiro da história
Dia 30 de janeiro, em título de notícia do G1
- As vendas totais de veículos (automóveis, comerciais leves, caminhões, ônibus, motos e implementos rodoviários) no varejo cresceram 33,73% em fevereiro deste ano na comparação com o mesmo mês do ano passado, somando 346.183 unidades, segundo dados da Fenabrave (Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores) divulgados hoje. No acumulado do ano, as vendas estão 32,76% mais elevadas, totalizando 713.273 unidades comercializadas sobre 2007 (537.274 unidades) --trata-se do melhor resultado da série histórica do setor tanto para o período como para fevereiro.
Dia 4, na Folha Online
- A capital paulista bateu nesta quinta-feira um novo recorde de congestionamento pela manhã. O índice chegou a 165 km às 9h. O trânsito parado não apenas inferniza a vida dos motoristas, revela que a cidade que almeja o posto de capital de negócios da América Latina não tem infra-estrutura de transportes suficiente.
O prejuízo com os congestionamentos alcança R$ 52 bilhões por ano, o equivalente a 20% do Produto Interno Bruto da cidade, segundo Rodrigo Queiroz, professor de projetos da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU), da Universidade de São Paulo (USP). Esse valor leva em consideração o tempo que o motorista gasta parado no tráfego, ou seja, o quanto ele deixa de ganhar se estivesse em alguma atividade produtiva, além, é claro, do prejuízo com o combustível.
Isso significa que os congestionamentos levam para o ralo 20% da riqueza que a cidade produz.
Dia 6, no Globo Online
- Em dois dos dias (de recorde de congestionamento) houve o apagão de energia com repercussão no trânsito. No segundo dia de recorde (quarta-feira) registramos dez acidentes em duas horas, das 6h30 às 8h30. Foram acidentes graves nas Marginais Pinheiros e Tietê, no corredor Norte-Sul e na 23 de Maio. Em janeiro e fevereiro, houve um aumento de mil ocorrências por mês. Passaram de 12 mil para 13 mil. Num sistema saturado, um pequeno acréscimo de volume de trânsito desencadeia uma onda muito maior. A cidade de São Paulo tem 17 mil quilômetros de via. Nós estamos monitorando as principais, que são 820 quilômetros que é 5% de todo o sistema viário. Estamos falando de congestionamentos recordes essa semana, em 20% desses 5% monitorado. Ninguém gosta de pegar 100, 160 quilômetros de congestionamento todo dia.
(...)É preciso entender que o trânsito é uma função derivada de outras (atividades) - a verticalização da cidade, o sistema de transporte, a produção automobilística. Principalmente da atividade econômica. Uma cidade como São Paulo não é viável tendo como base dos deslocamentos o transporte individual. Precisamos entender que o desafio do trânsito não é exclusivamente da CET. As pessoas continuam circulando com uma pessoa em média por carro. Precisamos de atitudes proativas não só do órgão de trânsito, mas dos demais órgãos e da população.
ROBERTO SCARINGELLA, presidente da Companhia de Engenharia de Tráfego, em entrevista ao Estadão de hoje
- A free-way estava coalhada de carros. De uma amurada a outra, nenhum espaço. Ao luar, via os radiadores enegrecidos, capôs corroídos, vidros partidos ou cobertos de pó, faróis vazados. Surgiram de repente, ao rastejarmos pela lombada. Na sua imobilidade davam a sensação de velocidade.
Fantasmagóricos, como esqueletos de dinossauros em museus. Bando de monstros, mortos subitamente em pleno ataque. Uma vez, criança, fui ver um velho desenho animado. Se chamava Fantasia. A cena que mais me impressionava era a do desespero dos anumais pré-históricos em fuga.
Comida e água tinham se acabado em seus habitats. Eles partiam em manadas, estranhos e gigantescos animais, fustigados pela fome e pelo sol. Iam caindo e o tempo se encarregava de sepultá-los, torná-los esqueletos descarnados, espécie desaparecida, transformada agora em fóssil.
isto me vem à cabeça, ao ver estes velhos carros, talvez os últimos do grande sonho brasileiro. Logo depois do Notável Congestionamento, as fábricas foram fechadas e milhares de pessoas ficaram nas ruas. Os que trabalhavam na fabricação e os que viviam das indústrias paralelas. Um tempo de grande dor.
-- Pois é, restos do Notável Congestionamento.
-- Eu sei, só me espanta, porque já retiraram os carros de quase todos os lugares.
-- Aqui foi mais fácil fechar a estrada. Tem duzentos quilômetros de carros.
-- Foi uma semana tão louca, pensei que o país ia explodir. Pela primeira vez os brasileiros se revoltaram de verdade. Vi gente se armar e sair à rua, tentando formar grupos.
IGNÁCIO DE LOYOLA BRANDÃO, na distopia de "Não verás país nenhum"
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