A Economist da próxima semana, que acaba de entrar no ar, traz um artigo curtinho sobre a mais maldiscutida questão do jornalismo brasileiro: a obrigatoriedade do diploma. Discordo em observações pontuais, apenas, mas acho meritória a publicação desse artigo para tentar provocar um debate além das verdades marteladas pelos sindicatos. O texto não toca na questão da péssima qualidade da média dos cursos que a lei beneficia com a obrigatoriedade, mas vale a pena ler.
Traduzo aqui:
- Uma das várias coisas que permaneceram iguais no Brasil depois do fim do regime militar em 1985 foi a necessidade de os jornalistas obterem um diploma e um registro junto ao ministério do trabalho. Quando a lei que estipulou isso foi criada, em 1967, ela criou uma forma útil de evitar que encrenqueiros dessem sua opinião. Ela sobreviveu porque o Brasil costuma ser lento em desfazer tais anacronismos, mas também porque convém aos sindicatos de jornalistas manter a lojinha fechada.
Agora, o Supremo Tribunal Federal vai decidir se elimina essa lei. Ao mesmo tempo, o ministério da educação pondera se qualquer brasileiro com grau universitário poderia obter um diploma que lhe permita escrever (um pré-requisito que, de saída, ainda excluiria o presidente Luiz Inácio Lula da Silva).
"A qualidade do jornalismo no Brasil sofreria se as regras mudassem", afirma Celso Schröder, da Federação Nacional dos Jornalistas. Isso é questionável. Boa parte do jornalismo do Brasil é boa e robustamente independente, particularmente quando se comparado com a mídia do México ou da Argentina. Mas isso tem menos a ver com os diplomas brandidos pelos profissionais do que com a competitividade do mercado de jornais e revistas. Embora haja apenas poucos canais de TV disponíveis para todos, eles fazem um trabalho bastante bom de cobrir o que está acontecendo para aqueles que assistem às notícias, ao invés de lê-las.
A maior falha na mídia brasileira tem a ver com a propriedade de emissoras de rádio e jornais de província. Segundo o Donos da Mídia, um grupo de monitoramento, 271 políticos (definidos como legisladores estaduais ou federais, ou prefeitos) são ou diretores ou sócios de empresas de mídia. Surpreendentemente, os dois estados com a maior incidência de donos-políticos são Minas Gerais e São Paulo, no desenvolvido sudeste. Nenhum diploma pode garantir jornalismo independente da parte desses mini-Berlusconis.
Mestre Maurício Tuffani também escreveu sobre a polêmica da obrigatoriedade, hoje, em seu Laudas Críticas. Ele é um dos mais qualificados críticos da faculdade obrigatória no Brasil.
2 comentários:
Até hoje não entendo por que não podem fazer com o jornalismo o que fazem com o ensino. Criem-se algumas seis ou sete matérias paralelas, como há para a licenciatura, e o sujeito que realmente aprendeu alguma coisa poderá obter um registro de jornalista. Resolve-se o problema. Digo isso porque estudei alguns anos numa faculdade de jornalismo, mas troquei após a constatação simples de que não estava aprendendo absolutamente nada...
Ótima idéia, osrevni.Nada mais justo que a parte prática de uma profissão que não se ensina nas faculdades porque quem ministra as aulas geralmente não conhece jornalismo.
O argumento (frágil)de que na escola aprende-se ética, filosofia, sociologia e o escambau, é pura balela para preencher uma grade curricular que o Google poderia fazê-lo talvez melhor; é, na verdade, um fura-olho para justificar os valores dos cursos e empregar "professores" que estão sempre de passagem.Gramática que é bom, nada.
Existem faculdades que não conseguiram fechar períodos dos cursos por falta de procura.Os valores são absurdamente diferenciados e chegam a custar metade de outras escolas.Não prevêem número máximo de alunos e geralmente duas ou três vezes por semana não tem aula.
Portanto, você está com razão: que se faça um teste para habilitar quem está na profissão ou queira se profissionalizar.
Postar um comentário