sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Subprime pra comprar um cantinho do inferno


Em dezembro de 1971, após um incêndio no cassino de Montreux durante um show do Frank Zappa, o Deep Purple se trancou num hotel e gravou seu disco de maior sucesso, "Machine Head". Uma das faixas do disco, "Pictures of Home", tem uma estrofe que diz mais ou menos isto:

    Aqui nesta prisão em que eu mesmo me meti
    Dia após dia venho virando
    Um herói, mas ninguém me adora
    Onde é que esconderam meu trono?
    Estou sozinho aqui
    Com o vazio, as águias e a neve
    Inimizades gelando meu corpo
    E gritando com as fotos de casa

Gillan falava do clima da banda e da paisagem de Montreux no inverno. Mas bem podia estar falando da sensação de estar trancado no engarrafamento. O Globo me traz o seguinte título: Lentidão de 195km está acima da média. A Folha Online informa que a "lentidão" (dificilmente engarrafamento) é causada por "excesso de veículos". Não diga.

Olho pela janela e vejo os motoristas trancados em suas prisões de lata, em que eles próprios se meteram em suaves prestações de cinco anos que muitos não conseguem mais pagar. (A foto deste post não é da minha janela e não é de hoje; peguei em outro blog.)

O saldo dos financiamentos de novas prisões não quitadas no Brasil é de R$ 138,6 bilhões, pelo que diz o G1. O risco é o "subprime Pacheco", na feliz definição do Kennedy Alencar. Apavorado, o governo pôs R$ 4 bilhões à disposição das montadoras para mais motoristas comprarem mais prisões de lata. É troco de cachaça, se você olhar com que tenacidade as propagandas tentam vender mais carros para entupir mais as cidades.

Abro uma garrafa de vinho, sirvo uma taça e olho de novo pela janela. Não consigo conter e brado um "CHUUUUUPA, MOTORISTA!!!" Dou uma risada de Vincent Price e coloco o Deep Purple pra tocar. Toco teclado no ar.

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