quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

O mistério da Ordem do Sino

Dei a dica ao amigo Graciliano Rocha, correspondente da Agência Folha em Porto Alegre, e ele foi atrás de uma das mais saborosas histórias da política gaúcha, com cacófato e tudo mais. Virou uma das mais lidas da Folha Online, hoje. É a história da Ordem do Sino, grupo de notáveis que inclui o ministro da Defesa, Nelson Jobim - o simpático bigodudo ali do lado.

Fiquei sabendo da Ordem em 1999, num artigo do Luiz Augusto Fischer. Ao formar-se em 1968, a turma do Jobim fez a molecagem de roubar o sino da Faculdade de Direito da UFRGS. Desde então, o sino passa de mão em mão entre os conspiradores, muitos dos quais tornaram-se notáveis da República. Consta inclusive que a peça ocupou lugar de honra no gabinete da Presidência do Supremo na gestão do atual ministro da Defesa. Os notáveis prometem devolver o sino só quando sobrar apenas um dos surrupiadores.

O professor Pedro Aurélio Dourado de Rezende, da UnB, liga o roubo do sino à forma como o Jobim mudou artigos da Constituição depois de aprovados.

O Graciliano achou genial a história e correu atrás. Em dois dias, conseguiu falar com alguns membros da ordem e conta um pouco mais sobre ela. Pena que tinha pouco espaço. Mas aqui está a íntegra do que saiu no impresso:

    Ministros participam de confraria que furtou sino de universidade gaúcha
    GRACILIANO ROCHA
    DA AGÊNCIA FOLHA, EM PORTO ALEGRE

    Ao longo dos últimos 40 anos, ministros, juízes e advogados militam em uma confraria dedicada a esconder um sino furtado da faculdade de direito da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
    Entre os membros da chamada Ordem do Sino estão o ex-presidente do Supremo Tribunal Federal e atual ministro da Defesa, Nelson Jobim, o vice-presidente do Superior Tribunal de Justiça, Ari Pargendler, e o corregedor do Conselho Nacional de Justiça, Gilson Dipp.
    O sino de bronze, cujas badaladas marcavam o início e o fim das aulas, foi surrupiado pelos formandos da turma de 1968 e desde então circula entre ex-alunos, que se recusam a devolvê-lo à universidade.
    Em 1978, dez anos após a formatura da turma, a Ordem do Sino ganhou um estatuto -que considera o produto do furto "símbolo da turma". Todos os anos, durante um jantar comemorativo em novembro, a peça troca de mãos. Segundo Maria Kramer, que faz parte da ordem, o critério para ter o privilégio de esconder o sino da faculdade é o maior número de participações nos jantares anuais.
    Jobim furou a fila em 1997. Menos assíduo do que outros, recebeu a "honraria" após se tornar ministro do Supremo. Amigos de Jobim contaram que ele guardava o sino em seu gabinete no STF. Pargendler foi "agraciado" em 1988. Dipp ainda aguarda sua vez.
    "Não devolveremos o sino até que haja um sobrevivente da nossa turma", diz o advogado Paulo Wainberg. Dos 93 formandos, 16 já morreram.
    O sino de bronze, com cerca de 30 centímetros de altura e 10 quilos, tem gravado os nomes dos que o esconderam. Pargendler se recusou a comentar o caso. Jobim e Dipp não foram localizados.

Um comentário:

Barone disse...

Li o material estes dias por dica do Graciliano. Um barato.