No escuro - por seis votos a um

Foi votada hoje, no Senado, uma proposta do senador Tião Viana (PT-AC) determinando que a Casa divulgasse, na internet, os gastos de todos os senadores com verbas indenizatórias. Estas são aqueles trocados - só uns R$ 15 mil - a que os parlamentares têm direito para gastar com despesas de seu gabinete.

Dar publicidade a elas não é nada do outro mundo. A vizinha Câmara dos Deputados o faz desde 2004, e até hoje não fechou. Nenhum dos maiores escândalos da Câmara foi causado pelo fato de qualquer cidadão poder saber quanto os deputados gastam com material de escritório ou gasolina.

Pois a Mesa Diretora do Senado - a mesma que se comportou do jeito como se comportou no caso Renan Calheiros - barrou a proposta, por seis votos a um. O entendimento de suas excelências foi o de que "divulgar os gastos de gabinete enfraqueceria a instituição", segundo o Globo Online. Viana foi acusado de ter intenções eleitoreiras com a proposta. Ele nega.

A votação da Mesa do Senado demonstra preocupações pouco republicanas. Há não muito tempo, apenas duas semanas, o jornal O Estado de S.Paulo noticiou que a mesma mesa diretora forneceu a Renan Calheiros os dados sobre o quanto os outros senadores gastam com verbas indenizatórias. Esses números teriam sido usados pelo senador como munição contra eles. Anteriormente, já havia sido noticiado que Renan havia incluído a verba indenizatória em sua declaração de bens, para justificar ter proventos suficientes para pagar por si a pensão da filha da "gestante".

No dia em que saiu a reportagem do Estadão, mesmo dia da publicação da Playboy com as fotos da ex-amante do senador, vários representantes dos estados subiram à tribuna para criticar Renan pelo mau uso das informações sobre verbas indenizatórias. Argumentei naquele dia, no post Capone, Calheiros e um mercado, o seguinte:

Caso os gastos com verbas indenizatórias no Senado fossem feitos às claras, qualquer eleitor poderia cobrar compostura do representante de seu estado. Na opacidade, qualquer senador pode embolsar o dinheiro e qualquer presidente do Senado pode usar o conhecimento sobre isso para chantagear colegas incômodos.

Mantenho. E, para que você possa se informar sobre os representantes que barraram a publicação do uso das verbas indenizatórias, segue abaixo a lista dos links para os perfis dos membros da Mesa Diretora no projeto Excelências, da Transparência Brasil. Segundo o site do Senado, estes devem ser os que votaram, na ausência de Renan Calheiros:

1º Vice-Presidente: Tião Viana (PT-AC)

2º Vice-Presidente: Alvaro Dias (PSDB-PR)

1º Secretário: Efraim Morais (DEM-PB)

2º Secretário: Gerson Camata (PMDB-ES)

3º Secretário: César Borges (DEM-BA)

4º Secretário: Magno Malta (PR-ES)

Primeiro Suplente: Papaléo Paes (PSDB-AP)

É razoável supor que o único voto a favor da proposta foi o de Viana. Leia também a notícia da Agência Senado sobre o assunto.