segunda-feira, 8 de outubro de 2007

Quem tem medo do livro mau?

Há pouco tratamos da censura ao "Uivo", de Allen Ginsberg. Mas a coisa não tem limite nenhum. Vem da Folha Online a notícia:

    Uma associação de pais britânicos, a favor de queimar os livros infantis sem final feliz, organizou para o fim deste mês uma série de "Fogueiras dos Livros Maus", convidando outros pais a levarem os volumes "pouco alegres" para jogá-los ao fogo, informou o "Daily Mail".

    A "Happy Ending Foundation" considera que a vida já submete as crianças a amarguras e "coisas feias" demais e, por isso, é preciso "protegê-los" contra as histórias "deprimentes".

Apavorante, não? Lembra os regimes totalitários. Lembra o Admirável Mundo Novo de Huxley. Mas trata-se do totalitarismo das boas intenções, que busca impor a todos os bons sentimentos - ou, pior, embotar o raciocínio próprio ao mostrar apenas um lado, considerado justo, da vida. Boa coisa não pode dar. Basta ver coisas como isto aqui.

É uma tendência que vem crescendo aos poucos. Em 2002, nos EUA, descobriram que trechos e palavras foram extirpados de livros clássicos por não atenderem aos ditames do politicamente correto - só faltando traduzir o título do famoso livro de Hemingway para "O Homem da Melhor Idade e o Mar".

Eu não duvidaria: em alguns lugares, já mudaram a tradicional letra do Atirei o Pau no Gato para "Não atire o pau no ga-tô-tô/Porque is-sô-sô/Não se faz-faz-faz..."

Durante um bom tempo traduzi textos do site do Ian Gillan. Passei a respeitá-lo imensamente, mais do que já respeitava como músico, quando traduzi algumas reflexões suas assim:

    "O politicamente correto foi o responsável pelo desaparecimento de um naco enorme da diversão em nossas vidas. Desprezo a devoção do tipo politicamente correto. Tenho tanto direito e capacidade de ter sensibilidade e reflexão sobre questões delicadas quanto um pós-modernista, e acho que minha moral é tão saudável quanto a de um religioso; em outras palavras, frágil e vulnerável."

    "O Politicamente Correto terá o efeito de inchar as sensibilidades até tal ponto que não será possível falar nada sobre qualquer coisa… Eu só insulto os meus amigos, meu chapa, o resto pode ir pro inferno!"

Outro sujeito que muito admirei na vida, mestre Paulo Acosta, chamava os arautos do politicamente correto de PPMTL: Pessoas Portadoras de Muito Tempo Livre.

Se você lê bem em inglês, recomendo a leitura deste artigo do The Guardian: Why personal politics has gone too far.

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