Venho acompanhando nos últimos dias a história da moça que ficou presa por um mês numa cela com 20 presos, em Abaetetuba (PA). Presa por furto, ela diz ter 15 anos de idade e afirma que precisou prestar favores sexuais aos colegas de cela para que permitissem a ela ter acesso até a comida.
O delegado se defende. Diz que não sabia que ela era menor de idade. Ela não tinha documentos, e agora está passando por exames para determinar sua idade. Embora um cartório local já tenha apresentado certidão de nascimento dela, dizendo que nasceu em 1991, a polícia afirma que ela é maior de idade e prostituta.
A questão toda virou a idade da moça. Se ela de fato tiver 20 anos, o delegado se enche de razão. Tanto fazem os 20 homens na mesma cela. Tanto faz o abuso sexual. Tanto faz ter ficado presa sem o delegado sequer saber desde quando. O cavalo de batalha é se ela tem 15 ou 20 anos de idade.
Outra moça, esta de 23 anos, também foi presa em condições semelhantes no Pará. Semelhantes não: eram 70 homens em vez de 20. Agora, que esses casos ganharam repercussão nacional, caiu a ficha:
"Qualquer preso agora sendo feminino a gente vai providenciar logo a transferência para Marabá", disse o delegado André Albuquerque.
As coisas no Brasil só se tornam erradas quando pega mal.
quinta-feira, 22 de novembro de 2007
Mundo cão
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5 comentários:
Caro Marcelo,
Você nunca leu ou não se lembra de uma famosa frase do Millor Fernandes?
"TARADO é um homem normal pêgo em flagrante"!
Essa é a "filosofia" nacional, já há muito (creio que Millor escreveu essa frase uns 30 anos atrás, pelo menos) captada pelo nosso pensador-mor!
Abraços
Marcelo, fiquei horas pensando na dor e na humilhação desta moça. Por que fizeram isto? Quando minha mente imagina alguma ameaça de violência sexual meu primeiro pensamento é que posso correr, posso fugir. Posso sair correndo, penso. E este poder tolo e infantil me conforta. Na rua a garota poderia correr, mas não na cela. Ela deve ter sido contaminada com todo tipo de doença sexualmente transmissível, deve estar grávida, mas, sobretudo, deve estar muito frágil e desamparada. Tomara que ela sobreviva a tudo isto.
Outra - porque a menina é prostituta (isso se for, ainda por cima menor de idade), isso dá direito ao estupro?
Cultura moralista do caramba essa nossa.
"Prostituta" merece ser torturada, estuprada? "Prostituta" nao sofre as conseqüências físicas e psicológicas do abuso sexual?
Acho que tem gente que acha normal, como se fossem "ossos do ofício", como quando alguém vomita num consultório médico.
Não.
A governadora do Pará, Ana Júlia Carepa (PT), diz que vai demolir a prisão onde ficou a garota.
Pará: depois do crime, a cadeia cai
Qual seria a repercursão de um site com vídeos e fotos do que ocorre dentro das prisões brasileiras?
Acho que veríamos coisa pior que qualquer inferno descrito por qualquer religião.
Claro que temos que levar em consideração de quais locais do Brasil seriam os presídios. Se fosse nos queridinhos do Brasil, e. g. São Paulo e Rio de Janeiro, o barulho seria muito maior...
Desculpem não ter respondido antes, então respondo todos agora:
1) Maurício - que honra te receber aqui! Teus comentários estavam fazendo falta. Não lembro de ter lido essa frase do Millôr, embora eu adore as frases dele. Mas é bem pertinente mesmo.
2) Gabriela - o negócio é trash mesmo, pior que filme de terror. Mas aparentemente ela não engravidou. Isso não minimiza o problema, mas pelo menos não joga conseqüências de mais longo prazo.
3) Tarsila - Cada dia aparecia uma coisa diferente. Ora a coisa da idade, ora a prostituição, ora o "retardada"... complicado, né? Não é nem pelo moralismo, o maior problema é o vasculhamento de possibilidades de culpar a vítima.
4) Tom - acho que seria forte a repercussão, como foi forte toda vez em que apareceram imagens das cadeias na TV e no cinema. Complicado é entrar lá pra mostrar o cotidiano. Quando é visita especial, as condições "se higienizam" um pouco. Hoje, só quem está aparelhado pra fazer essa captação cotidiana são os próprios presos, com todos os celulares que entram na cadeia. Mas não sou eu que vou dar idéia pra eles...
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