quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

Vereadores duelam no sertão do gesto obsceno

Brasil, século 21. Em Cansanção, uma cidade sertaneja a 340 km de Salvador, dois vereadores resolveram uma disputa política ao melhor estilo faroeste: com um duelo na principal praça da cidade, informa O Globo.

O vereador Agnaldo Alcântara da Silva (PPS) foi o primeiro a disparar contra o rival Júnior Cezar Amado (DEM). Morreu o irmão deste, Geromário Amado Agra, de 24 anos (que o jornal Correio da Bahia, da tradicional família pefelista dos Magalhães, identifica como cabeleireiro). Júnior Amado e um homem identificado como Doracir Silva Souza, da parte de Agnaldo, foram feridos a bala. Agnaldo está foragido. Doracir responderia por tentativa de homicídio.

Nem o jornal carioca e nem o jornal carlista informam o motivo que levou os representantes do povo cansançonense a gesto tão romântico. O jornal A Tarde, principal da Bahia, só conseguiu descobrir junto ao delegado que a briga era sobre currais eleitorais e mudança de partido político.

Mudança de partido político? Não dos duelantes, pelo menos. Agnaldo - o ruim de mira -, foi eleito na coligação "Respeito pela Cidadania" (PMDB / PPS / PRP), com 531 votos. Júnior - o ruim de gatilho - foi o segundo mais votado da cidade, com 819 votos. Só mudou o nome de seu partido - era PFL, hoje é DEM. Ainda é o partido do prefeito, embora não seja mais o do governador.

Vale a pena dar uma olhada nos dados do município para colocar a disputa em contexto.

Cansanção é uma cidade pequena. Tem 21 mil eleitores, 18 mil cabeças de gado, 4.100 porcos, 57 galinhas e um PIB per capita comparável ao do Afeganistão (R$ 2,1 mil). Quase um terço do território é mato, segundo o censo agropecuário do IBGE. No Censo de 2000, a cidade tinha mais chefes de família sem instrução (4.140) do que com mais de um ano de escola (3.136). Com mais de 15 anos de estudo, eram apenas cinco chefes de família.

Na cidade que tem como ponto turístico uma pedra em forma de dedo médio em riste, a vida política espelha e realimenta tudo isso.

A Controladoria Geral da União, em relato de 2003, dava conta de que uma empresa de cereais recebeu R$ 230 mil para dar cursos de aperfeiçoamento a professores leigos na cidade. O serviço, que não foi prestado, trazia a palavra "enCino" na nota fiscal. Noutro caso levantado pela CGU, um cheque de R$ 135 mil em recursos para a educação acabou desviado e pagou entre outras coisas a compra de um Mitsubishi Saloon para o então vice-prefeito, Luiz Batista de Jesus, que depois ainda assumiu o cargo quando o prefeito foi cassado.

Para obter os documentos necessários para fiscalizar as contas da cidade, informava no ano passado O Estado de S.Paulo, a Controladoria Geral da União precisou chamar a Polícia Federal.

A única moral que se pode tirar da história: no tiroteio entre políticos, quem mais leva chumbo é o eleitor.

Um comentário:

Anônimo disse...

Maluco, sou eu fã!