segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

O capitalismo comunista do Zé Dirceu

Elio Gaspari foi o primeiro a sacar: o ex-ministro José Dirceu, que tem boas relações com o governo cubano e ótimo trânsito entre empresários brasileiros, será o maior beneficiado pela viagem do presidente Lula a Cuba, em busca de maiores relações comerciais. As peças estão soltas. Diz hoje a BBC, relatada por O Globo:

    Embora seja uma transição de proporções ainda indefinidas, porque foi coordenada por Fidel, o Brasil quer aproveitar a abertura da economia cubana para fomentar investimentos privados em infra-estrutura e no setor hoteleiro, de grande potencial no país, além do setor de energia, com a Petrobras.

    "A economia cubana superou o período de dificuldades e tem crescido a taxas ao redor de 10%, o que abre oportunidades para desenvolvimento, investimento e parcerias", disse o porta-voz da Presidência, Marcelo Baumbach.

    "O governo brasileiro está atento ao desejo de investidores, de ampliar a sua presença em Cuba, e pretende fomentar o investimento naquele país."

Outras peças do quebra-cabeça estão na parte menos badalada da Piauí de janeiro, transcrita antes aqui no blog:

    (Dirceu) "Tem uma carteira de quinze bons clientes, a maioria deles estrangeiros, aos quais presta consultoria. Os brasileiros lhe pagam entre 20 e 30 mil reais. Deu como exemplo de cliente de peso o banco Azteca, do empresário mexicano Ricardo Salinas, que quer se estabelecer no Brasil (...). Outro cliente é o também mexicano Carlos Slim, o homem mais rico do mundo, que planeja implantar no Brasil a televisão a cabo com mensalidade de 40 reais. 'Mas não sou consultor dele no Brasil', disse. 'Como defendo coisas contrárias ao interesse dele aqui, temos um acerto informal de buscar negócios em outros países da América Latina'."

    "No caminho até o hotel, ele disse que pretende se dedicar a Angola. 'Meu interesse é infra-estrutura: rodovias, telefones, telecomunicações. Temos a vantagem do idioma, o know-how', afirmou. 'Também vou abrir um escritório no Panamá. A América Latina está cheia de bons negócios'. Outro de seus sócios, o advogado Antônio Lamego, é amigo do general João de Matos, ex-chefe de Estado Maior do Exército angolano. Os três haviam marcado de se encontrar em breve, na Costa do Sauípe, para tratar de negócios."

    "Foi quando chegou o empresário dominicano Johnny Cabrera, dono da Petroconsa, empresa de petróleo e construções, com quem deveria se encontrar no dia seguinte. Ambos têm um interesse comum: etanol. Segundo Dirceu, Cabrera tem estrutura para fazer o blend do combustível no Caribe e, de lá, mandá-lo para os Estados Unidos, que impõem duras barreiras tarifárias para importação do produto brasileiro."

    "Após o jantar num restaurante italiano (...), ele e Mejía foram conhecer uma casa fechada onde seria possível instalar um restaurante. 'Vou trazer a churrascaria Bassi para cá', explicou o ex-deputado. 'Vai ser uma churrascaria rodúzio e butique de carnes (...)'. Dirceu também foi procurado por empresários paulistas para entrar como sócio numa franquia do restaurante Floridita, de Havana, que era freqüentado por Ernest Hemingway. O investimento seria de 4 milhões de reais. A parte de José Dirceu, 400 mil reais. 'Mas estou achando muito caro', comentou."

    "O ex-ministro está convencido de que os dias do castrismo estão contados. "Aquilo vai mudar, já está mudando", disse. "Mas os cubanos não vão aceitar o capitalismo de uma vez. Eles viram a experiência da Europa Oriental. O que eles querem é pouco. É poder ter três bicicletas e alugá-las. É ter o direito de ir e vir, poder abrir um bar. Alugar um quarto na casa deles. Não é muito não".

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