domingo, 6 de janeiro de 2008

Projeto Boquinha 2009?

Janio de Freitas, hoje na Folha, deu sua hipótese para o aumento das filiações a partidos políticos:

    A inscrição recordista de novos filiados aos 29 partidos -815 mil em 2007- é um mau prenúncio para nossas cidades já tão vitimadas por suas Câmaras de Vereadores. Se houver as exceções de praxe, o que só o tempo dirá, ainda assim o que explica a corrida aos poucos partidos e tantos pseudopartidos é o oportunismo em busca desta boca riquíssima: tornar-se político profissional nas eleições municipais deste ano. Não são, no geral, militantes motivados por idéias e programas, ou não se filiariam só com a antecedência exigida para candidatar-se.

Como testar essa hipótese?

Entrei no banco de dados do TSE e peguei os dados de filiações aos dois principais partidos brasileiros, PT e PSDB, em novembro de 2006 (quando da eleição) e novembro de 2007 (os dados mais atuais). Procurei ver onde os dois partidos mais cresceram.

Em cinco dos 10 estados onde mais cresceu, o PT tem governadores. Já o PSDB cresceu pouco nos estados que governa. Três dos 10 estados onde mais cresceu, porém, são governados pelo PT.

Dei uma olhada nos dados do PT em dois estados que governa e onde cresceu bastante: Acre e Pará.

Nas cidades do Pará, estado governado pela petista Ana Júlia Carepa, a média de crescimento do PT foi de 361,1%. O maior crescimento foi registrado em Itaituba - eram 2 filiados, hoje são 439 - um crescimento de 21.850%. Em Curionópolis, a cidade onde houve o massacre dos sem-terra, o partido passou de 32 para 401 filiados (1.153%). Obviamente, o tamanho do crescimento nessas cidades se deve ao fato de os números serem pequenos, mas de qualquer forma é um salto e tanto.

Vamos para números relativos mais realistas. Em Anapu, onde foi morta a freira Dorothy Stang, o aumento foi de 63 para 136 (115,9%). Em Abaetetuba, onde a garota foi presa com 15 homens, o crescimento foi de 14,4% - de 932 filiados para 1.066. Em Belém, passou de 3.852 para 4.244 (10,2%).

Nos municípios do Acre, governado por Binho Marques, o crescimento médio do PT é de 46%. Em Assis Brasil, em 2006, o partido tinha 71 filiados. Hoje, tem 175 aptos a concorrer. O crescimento foi de 146,5%. Em Manuel Urbano, o partido tinha 49 filiados e hoje tem 117 - um crescimento de 138,8%. Na capital, Rio Branco, passou de 2.405 filiados a 3.545 - um salto de 47,4%.

A planilha inteira está aqui, para quem quiser olhar com mais calma.

"A gente tem que estar do lado da força, né?"

Em 2000, eu e dois colegas fizemos uma reportagem para a Folha sobre a última liberação de verbas do governo estadual tucano para as cidades paulistas antes da eleição municipal. Levantamos o partido de todos os prefeitos para ver quantos haviam mudado depois de serem eleitos. De fato, constatamos numericamente que cidades administradas pelo partido do governador ganhavam mais recursos, proporcionalmente, do que as de outros partidos.

O repórter Fábio Zanini entrevistou prefeitos tucanos sobre isso. Saiu um trecho assim:

    Um dos municípios mais beneficiados pela liberação de recursos foi Cedral, que tem 8.000 moradores e também fica na região de Rio Preto. O prefeito de Cedral, Vitório Guidolini, é recém-chegado ao ninho tucano: até o ano passado, ele era do PFL. Candidato à reeleição, foi agraciado com seis convênios, que vieram das secretarias estaduais de Agricultura, Planejamento, Recursos Hídricos e Saúde. No total, foram R$ 580 mil.

    "Eu estou batendo em cima dele (Covas) por esta verba há dois anos", afirma o prefeito. Ele diz que o fato de ser do mesmo partido de Covas pode ter ajudado. "O governador é PSDB, nós somos PSDB, estamos trabalhando juntos. A gente tem que estar do lado da força, né? O dinheiro chega para todo mundo, mas ter amizade (com Covas) é melhor."

Nada indica que seja diferente noutros partidos e noutros estados.

3 comentários:

Fábio disse...

Tal situação, Marcelo, mostra que o maior partido brasileiro continua sendo o PGQQC - Partido do Governo a Qualquer Custo - que poderia ser também chamado de PSP - Partido da Sobrevivência do Político; e lembrando também que, em países de democracia consolidada a fundo, como os EUA, não há fidelidade partidária mas os eleitores cobram uma posição política e punem os "vira-casaca" quando se afastam dos eleitores por oportunismo.

Mas como oportunismo é um costume dos políticos e eleitores brasileiros, já se sabe o que acontece por aqui ...

Marcelo disse...

É por aí. Mas perceba que a coisa se estende a todos os partidos políticos. Há alguns anos, fiz uma planilha com a evolução das bancadas no Congresso desde os anos 80. As que apóiam os governos da vez sempre engordam e esvaziam ao sabor dos ventos políticos.

Giuseppe disse...

Nós, Cidadãos precisamos unir forças, onde quer que estejamos!
NÃO BASTA SERMOS CIDADÃO, TEMOS QUE PARTICIPAR !
Os fatos recentes são prova de que a democracia representativa no Brasil está impregnada pelo poder econômico. Faz-se necessário caminhar na direção de uma DEMOCRACIA DIRETA, onde os cidadãos sejam ouvidos sem intermediários nos temas mais polêmicos e relevantes. Somos adultos, temos de confiar no nosso "taco". Queremos ser ouvidos sempre, e não apenas de 4 em 4 anos!
TEMOS ATÉ UM ABAIXO-ASSINADO PELA "PEC" do
LEGISLATIVO ABERTO DIGITAL em...
http://vozdasgerais.blogspot.com