sábado, 16 de fevereiro de 2008

Esculhambaram a corrupção

A corrupção na política ficou tão popular, com papos de boteco girando em torno do "ué, vai dizer que você lá não pegava?", que vigaristas têm se especializado em criar uma espécie de golpe nigeriano pra pegar os trouxas que se acham espertos. Em vez da grana do Sani Abacha, a isca é a grana do caixa-dois. Em vez de e-mails empolados em inglês macarrônico, é telefone.

O G1 publica uma curiosa notícia sobre estelionatários que davam golpes dizendo serem especialistas em lavagem de dinheiro de caixa-dois de políticos:

    Alencar Zolin foi preso quando saía de um condomínio de luxo onde mora na cidade de Campinas. De acordo com a Polícia Federal, ele seria o chefe da quadrilha e tinha várias identidades para aplicar um golpe milionário. O alvo da quadrilha eram empresários, prefeitos e vereadores.

    As investigações indicam que os estelionatários se passavam por assessores de políticos, diziam que tinham dólares, que seriam de sobras de campanha e que precisavam trocar por reais. Para seduzir as vítimas, ofereciam a moeda americana por uma cotação bem abaixo do mercado.

    Para dar mais crédito ao negócio, os estelionatários visitavam as vítimas. É o que mostram as conversas gravadas com autorização da Justiça.

    Em uma das gravações, os supostos golpistas estão irritados. Eles comentam que o vereador Félix Alves, de Porto Murtinho (MS), tinha dado R$ 28 mil à quadrilha e queria o dinheiro de volta. Por telefone, o vereador negou que tenha caído no golpe.

    De acordo com os investigadores, o grupo agiu nos estados de São Paulo, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Goiás, Brasília, Alagoas, Paraná e Rio Grande do Sul.

    Só nos últimos cinco meses, a quadrilha movimentou mais de R$ 5 milhões. Ao todo, a operação da Polícia Federal prendeu oito pessoas, entre elas um policial do Deic, departamento que combate o crime organizado em São Paulo. Outros cinco policiais da mesma delegacia estão sendo investigados.

Mas esse não é, nem de longe, o primeiro caso do gênero. Em agosto de 2006, o Correio Braziliense publicou uma reportagem bem interessante sobre um golpe parecido, em que vigaristas abordavam empresários pedindo dinheiro e prometendo pagar o triplo quando entrasse a grana do caixa-dois. Começava assim:

    O deputado Doutor Ronaldo não é mensaleiro nem sanguessuga. Não participou de nenhum dos muitos esquemas, grandes ou pequenos, descobertos nos subterrâneos do Congresso Nacional nos últimos anos. O senador Guimarães também. Jamais foi flagrado em negociatas com o governo. Mesmo assim, o primeiro está preso desde ontem. O outro, depois de fugir do cerco, ainda é perseguido pela Polícia Federal. Juntos, eles roubaram aproximadamente R$ 4 milhões de pelo menos 60 vítimas, entre pequenos empresários e fazendeiros. As acusações: formação de quadrilha e estelionato.

    O deputado Doutor Ronaldo jamais teve votos. Sequer participou de eleição. Na verdade, era um personagem fictício, criado pelo estelionatário Elias José da Silva - morador do Gama, preso ontem, na Operação 3 por 1 deflagrada pela PF - para aplicar golpes país afora. Como em 100% dos casos de estelionato, o crime se amparava na poderosa retórica dos criminosos. No popular, os integrantes da quadrilha só conseguiam sucesso porque eram bons de papo. Tal característica, como se sabe, é comum também aos políticos.

Leiam esse texto do Ugo Braga. É uma aula de jornalismo.

3 comentários:

Luiz Edmundo disse...

Deviam dar uma condecoração aos golpistas e colocar as vítimas na cadeia.

João Bosco disse...

Ladrão que rouba ladrão...
Um não vive sem o outro.

Anônimo disse...

hehehehe. que grande piada...
Concordo com o que diz o Luiz Edmundo. Na minha ótica seria o caso de "enjaular" as vítimas...
Nado como amparar um golpe destes na ganância das pessoas...