Arriscando me expor um pouco além do necessário, gostaria de recomendar esta reportagem do The Guardian. Fala de um cavalheiro inglês que sofria de apnéia do sono e mudou de vida usando um aparelho que auxilia sua respiração ao dormir. Lendo o texto, não pude deixar de imaginar que aquele cara seria eu daqui a uns dez anos, se eu não tivesse buscado a mesma solução no ano passado.
Vale a pena contar a história aqui, porque se o Guardian trata como algo inédito é porque pouca gente conhece o aparelho MESMO.
Desde criança, tive problemas com ronco. Era motivo de piada entre os amigos, na volta dos acampamentos - certa vez, acordei do lado de fora da barraca. Adulto, acordava algumas vezes no meio da noite com a nuca suada pela dificuldade de respirar causada pela apnéia. Eu tratava isso como algo folclórico, fazia piada a respeito. Aí casei e isso passou a incomodar minha mulher. Acabei indo tratar por insistência dela, mais pra agradar do que por qualquer outro motivo.
Meu otorrinolaringologista fez vários exames e indicou o uso de um aparelho chamado CPAP (Continuous Positive Air Pressure, ou pressão de ar positiva contínua). O aparelho força a entrada do ar, garantindo a respiração e impedindo o ronco.
Num dos exames, descobriram que eu acordei 420 vezes na noite, a maioria delas sem perceber. Por isso eu vivia cansado pela manhã, e às vezes minha memória me falhava quando eu menos podia deixar. Não tinha um sono de qualidade. Usando o CPAP, esse absurdo acúmulo de despertares baixou pra 15 vezes. Mesmo assim, só porque a TV estava ligada e eu, cheio de fios, não consegui buscar o controle remoto que caiu.
Quando meu irmão me viu pela primeira vez usando o aparelho, deu risada: "vai dormir em Marte?", perguntou. Era uma cena semelhante a essa da foto. Parece incômodo, mas é mais confortável do que a apnéia. Usar o CPAP fez bem pra minha disposição, pro meu humor e pra paciência da minha mulher. De vez em quando, acho até que ando pensando com mais clareza nos últimos meses. Domingo, segundo o contador de horas do aparelho, devo completar 1.200 horas bem dormidas. Credito ao efeito dessa máquina boa parte das boas mudanças que aconteceram na minha vida nos últimos meses.
No dia em que recebi o aparelho, perguntei ao representante se eles sabiam quantos aparelhos eram usados em São Paulo. Uns cinco mil, disse o rapaz. É pouco. Segundo estimativas da Sociedade Brasileira do Sono, entre 4% e 9% dos homens adultos sofrem disso - e incomodam quem dorme por perto, e vêem o dia render menos, e têm problemas de saúde, tudo por causa de algo perfeitamente tratável.
Se você sofre disso - ou, pior, faz os outros sofrerem -, procure seu médico. Vale a pena.
quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008
A máquina que mudou minha vida, hoje no Guardian
Postado por Marcelo às 23:01
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3 comentários:
Me solidartizo com você. Tenho este problema e quero um aparelho deste para mim. Você pode, por favor, dar o caminho das pedras? Sou um roncador aburdo, acordo até quarteirão, minha mulher diz que dormir ao lado de um trator lhe garantiria mais descanso. Sofro muito com isto e sei o que você deve ter passado.
A venda só pode ser feita mediante receita. De posse dela, seu otorrinolaringologista deve ter as dicas de onde achar o CPAP em sua cidade. Este e' um representante em Sao Paulo - http://www.gerarsono.com.br/
Procure em varios, pra ver se acha um bom preco. Alguns tambem alugam, a 10% do preco da maquina por mes. Eu achei mais negocio comprar.
Parabéns, eu tbm faço uso do CPAP (nasal), claro que ainda provoca alguns incomodos como aperto no rosto, gases abdominais sem falar da cara de ET, mas os pontos positivos são insuperavelmente maiores, estou mais disposta, acordo satisfeita e meu marido não reclama mais.
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