É recorrente, nos fóruns de debate sobre quadrinhos, a discussão sobre o porquê de tão pouca gente ler gibi hoje em dia. Eu sempre acabo respondendo que o maior problema não é que pouca gente leia gibi - e sim que pouca gente lê. As tiragens dos jornais, mesmo nos períodos de vacas gordas dos anos 90, sempre foram ridículas se comparadas às de outros países mais desenvolvidos.
Uma das questões mais importantes, no Brasil de hoje, é o analfabetismo funcional. O ensino básico foi universalizado, mas muita gente ainda identifica letras e palavras sem entender o que lê. Por isso, não cria o hábito da leitura. Por isso, não se sofistica. Isso é um problema para a educação, para a economia, para o jornalismo, para a política e até para a qualidade do debate em mesas de boteco. Não tenho dúvidas de que o analfabetismo funcional é um dos fatores que tornam a orelhada um esporte mais popular do que o futebol, no Brasil.
Por isso tudo, recomendo vivamente a leitura desta entrevista com Ana Lúcia Lima, do Instituto Paulo Montenegro, ligado ao Ibope, que desde 2001 procura mapear o analfabetismo funcional brasileiro.
terça-feira, 19 de fevereiro de 2008
Uma questão de qualidade educacional
Postado por Marcelo às 19:38
Marcadores: sociedade da informação
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Um comentário:
Sinceramente gostei mais do seu post do que da entrevista. Já havia lido alguma coisa sobre os resultados da pesquisa e nada me acrescenteram. Gostei apenas do final da entrevista: que educação deveria ser um projeto de nação e não de governo### O analfabetismo funcional é muito maior do que eles dizem e esses métodos estatísticos não conseguem avaliar o problema de forma adequada. Parece aquela coisa de economistas e estatísticos versus pedagogos e prefessores### Com certeza a universalização vai na contramão da qualidade.Desde o tempo em que acabaram o exame de admissão ao ginásio, começaram com a esculhambação da comunicação e expressão e da matemática moderna e o ensino público no Brasil vem caindo de qualidade a cada ano### Não importa o tempo de escolaridade. Tem gente que ainda lê de forma silábica, que só frequentou três anos de escola e consegue fazer uma leitura crítica, tem gente que ensina, que tem nível superior e não sabe: isso eu confirmo em minha prática como educador### Todo ano na semana pedagógica que antecede o ano letivo, discutimos o analfabetismo funcional; planejamos combatê-lo e depois a rotina, a burocracia, o trabalho não interdisciplinar acabam por sabotar as melhores intenções. No final do ano passamos metade dos reprovados para que os índices da escola não fiquem muito baixos. Isso é uma ciranda inicida graças aos BIRDs da vida, que financiaram por anos programas educacionais: tem que aprovar de qualquer jeito### Ler se aprende no decorrer da vida, escrever também: eu escrevo e leio melhor hoje do que há vinte anos e espero ler melhor daqui a vinte anos. E não aprendi isso só na escola### Se os meios de comunicação quisessem, se uma Rede Globo quisesse, se uma Ivete Sangalo desse uma de Betinho da educação, algo poderia mudar...
Postar um comentário