"Red Tape" (literalmente, fita vermelha) é uma gíria definida assim pela Wikipedia:
- "Red tape" é um termo depreciativo para designar excesso de regras ou conformidade rígida a normas formais que são consideradas redundantes ou burocráticas, impedindo ou evitando ações ou tomadas de decisão. Geralmente se aplica ao governo, mas também pode ser aplicado a outras organizações, como as corporações. Isso geralmente inclui o preenchimento de documentos aparentemente desnecessários, a obtenção de licenças desnecessárias, a participação de múltiplas pessoas ou comitês para aprovar uma decisão e várias regras de nível inferior que tornam o trabalho de alguém mais lento, mais difícil ou ambos.
O termo vem das fitas vermelhas usadas para amarrar documentos do Vaticano. É o velho excesso de burocracia que os brasileiros conhecem bem e sobre o qual eu escrevi quando era adolescente, numa das únicas tentativas (horrendas) de poesia que fiz na vida.
Pelo que tenho vivenciado nos últimos dias, a fitinha vermelha do Senhor do Bonfim que a secretária de Estado Condoleezza Rice ganhou em Salvador é uma boa ilustração do que ocorre na burocracia que ela administra.
Fui convidado por um centro de pesquisa da Universidade Harvard a participar de uma conferência em Los Angeles, nesta semana. Seriam três dias, com passagem e estadia pagas pela universidade. Um amigo até tentou me convencer a ficar mais um, pra poder ver um pouco mais a cidade, mas preferi não aceitar - tenho uma reunião na outra segunda-feira pela manhã e na outra sexta vou para Porto Alegre, porque senão minha família me deserda das dívidas.
Porém, meu passaporte e a possibilidade de visto ainda estão amarrados com fita vermelha. Ninguém explica o motivo.
Pra mim, parecia tudo muito simples e inequívoco: tenho como comprovar quem eu sou, tenho como demonstrar o que faço, tenho como apresentar o convite e eles têm como verificar quem paga pela minha ida - todos os telefones estão no formulário e eu tinha uma carta junto comigo. Só que ninguém me pediu explicações de absolutamente nada, caso tivesse dúvidas. A moça do carimbo fez apenas duas perguntas: se eu já havia estado nos EUA antes (nunca estive, o que eles podem facilmente verificar) e o que fui fazer em Londres em julho (um curso de jornalismo investigativo).
Até tentei apresentar as cartas de convite e de declaração de que eu trabalho para o Comittee to Protect Journalists. A moça do carimbo não quis ver. Disse apenas que eu teria de esperar e informou que poderia demorar, devido a procedimentos administrativos. De fato, ainda não veio resposta. Duvido que venha amanhã, prazo máximo para fecharmos a passagem. Fontes minhas em Washington me disseram que "procedimentos administrativos" significam algo parecido com "a CIA vai ter que checar sua ficha antes". Não fosse o pouco tempo, sem problemas. Não tenho absolutamente nada a esconder. O problema são os prazos. Duvido que demore tanto pra descobrir quem sou eu.
Agora há pouco, conversando com as organizadoras do congresso, achamos melhor cancelar a ida. Fica para uma próxima vez, depois que o nó da fita vermelha soltar. Quanto a isso, sem problemas. Agora, é mais uma questão de curiosidade pessoal sobre o que aconteceu.
3 comentários:
Marcelo, há 2 anos, por conta de trabalho, precisei tirar o visto para os EUA. a empresa da qual eu era funcionária era americaníssima, a carta-convite explicava o motivo da viagem, os telefones e dados estavam todos lá. o visto saiu rápido, para a minha surpresa, mas a antipática mocinha do (des)atendimento insistia em perguntar a razão da minha ida. deus meu, explicar de novo? confesso que minha vontade foi dizer que eu não tinha nenhum interesse em visitar um país que me obrigava - aos 5 meses de gravidez - a ficar sem qualquer contato com o mundo externo durante o tempo em que eu permanecesse na embaixada (nem acenar para colegas eu podia!), a esperar debaixo de chuva (com uma cobertura que deixava cair água até no pensamento) e até me impedindo de estacionar o meu carro na rua "deles", por questões de segurança. ARGH! (uma pena tua viagem não ter saído por conta dessas sandices burocráticas). e ainda falam da espanha! :)
Pois é. Talvez mais adiante acabe saindo o visto, mas não vai dar tempo de ir. Estou na mesma situação: estava muito honrado de ter sido convidado, estava contente de ir e poder conhecer algumas pessoas que só conheço por e-mail, mas ia perder alguns prazos de outras coisas aqui. Pra mim, não poder estacionar não foi um problema, porque não dirijo; esperar numa longa fila sem poder usar o celular não foi um problema, porque precisava pôr leituras em dia; mas confesso que sempre fico com o pé atrás quando vejo um segurança organizar uma fila segurando o cabo da arma. A única vez em que vi algo assim foi uma vez em que fui almoçar com meu pai no local de trabalho dele, há uns quinze anos. Ele é agente penitenciário.
marcelo, aconteceu o mesmo comigo, gostaria de saber se seu visto foi concedido e em quanto tempo eles lhe devolveram o passaporte. abraço, kleber
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