No Paraná e em Pernambuco, como eu mostrei outro dia, houve restrições à publicação de dados de violência. No Rio, a diretora-presidente do Instituto de Segurança Pública perdeu o cargo após divulgar um novo recorde de assassinatos pela polícia fluminense.
Hoje, o Globo Online mostra que uma revisão de dados de segurança de São Paulo acabou por revelar um número maior de crimes em cidades do interior. Não há prazo para a investigação terminar.
Possivelmente, essas mordaças, camuflagens e calabocas têm a ver com o ano eleitoral. Estatísticas de segurança sempre tiveram um certo grau de camuflagem, ao que se saiba, mas hoje em dia há movimentos simultâneos da tecnologia e da sociedade possibilitando que isso apareça mais, porque a demanda é mais aberta. Tanto a demanda quanto as maquiagens tendem a aparecer mais.
Não custa repetir que o conceito de informação pública ainda é esotérico, no Brasil. No ano passado, a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo apresentou um estudo mapeando como órgãos da administração pública atendem a pedidos de informação. Três quartos dos órgãos consultados simplesmente não responderam às perguntas feitas.
A mão que nega informações públicas a um repórter trabalha em harmonia com a mão que maquia estatísticas. É tudo gente que não presta (informações, serviço decente, respeito ao cidadão...).
O maior problema com isso é o fato de que maquiar estatísticas é semelhante a quebrar um termômetro. Como se vai saber qual é a febre do doente? Como se vai planejar o tratamento?
A tentação de usar estatísticas maquiadas é um dos efeitos mais nefastos da marquetização da política. Pode ser útil em termos eleitorais ou publicitários, vá lá. Isso serve bem às panelinhas de plantão, mas só a elas.
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