Em seu artigo "Public Journalism and the problem of objectivity", mestre Philip Meyer classifica o conceito raso de objetividade, muito criticado nas faculdades, como "objetividade de resultados". Trata-se de pegar uma questão, ouvir um lado, ouvir o outro lado, dar peso idêntico a eles e tacar na página.
O jornalismo declaratório é uma ferramenta importante da objetividade de resultados, pois reduz principalmente as controvérsias que seriam resolvidas com um pouco de pesquisa a questões de opinião. Bota-se uma contra a outra; a partir daí, pão ou pães é questão de opiniães.
Os efeitos da objetividade de resultados turbinada pelo declaratório estão bem ilustrados nesta matéria do G1.
A Justiça Eleitoral encomendou a uma agência de publicidade um filme sobre a importância de fiscalizar os políticos. Ele inclui a frase "Heróis existem. Não desperdice o direito que eles tanto lutaram e conquistaram para você."
Professores de português entrevistados dizem que o certo seria "não desperdice o direito PELO QUAL (ou POR QUE) eles tanto lutaram". O TSE diz que o texto foi revisado várias vezes. A agência diz isto aqui:
- Não estamos dizendo que eles lutaram pelo direito, e sim que eles lutaram para conquistar o direito. Como se pode facilmente perceber, a palavra 'direito' não tem relação sintática com o verbo que vem logo depois ('lutaram'), mas sim com infinitivo 'conquistar', do qual é objeto direto. Por isso, a construção está correta.
Ao todo, foram gastas 857 palavras com uma não-polêmica. Consultar a gramática resolveria a parada. Agências de publicidade não são exatamente autoridades em regência verbal. Mas a elas, na matéria, foi dado o mesmo peso que aos professores de português.
Um comentário:
Boa, Marcelo. Essa do "outro lado", pão do jornalismo declaratório, acaba misturando alho com bugalhos.
Versão 1: cientista explica alguma teoria;
versão 2: astrólogo critica a teoria.
Nenhuma diferença entre conhecimento e opinião, portanto.
O pior é que a gente vê isso quase todo dia nos jornais.
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