sexta-feira, 4 de abril de 2008

Bate-pronto, o pai do declaratório

Mestre Sergio Leo relata em seu blog as circunstâncias de como nascem notícias apressadas e logo desmentidas.

    Entrevista de correria é um problema. As respostas sempre são incompletas, quando não totalmente cifradas. Você não pode assegurar que o entrevistado ouviu corretamente a pergunta, nem que a resposta foi entendida adequadamente. E, no caso de nosso presidente, há um fator adicional. Lula tem uma maneira toda própria de se expressar; o que ele diz nem sempre é exatamente o que ele quis dizer.
    Que o diga o candidato à presidência do Paraguai, Fernando Lugo, que encontrou-se com Lula no mesmo dia, logo após o almoço, e saiu contando que o presidente havia topado negociar o acordo da hidrelétrica de Itaipu. Foi necessário mandar assessores à imprensa para dizer que Lula tinha topado sentar para conversar sobre vários assuntos com Lugo, mas que nem sob choque elétrico o governo negociará o acordo de Itaipu, que vence em 2023, jamais.

    Isso tudo acontece num terreno lodoso onde entrou a cobertura política, que, cada vez mais, despreza o contexto das declarações, abandona qualquer tentativa de explicar aos leitores o verdadeiro sentido das manifestações das autoridades, para se fixar na frase de efeito, na declaração bombástica, mesmo que ela nada tenha a ver com o que, de fato, o personagem da notícia quis dizer. Na dúvida, às favas com a traiçoeira interpretação, e que se publique a frase descolada do contexto em que foi dita. O repórter tem, sempre pronta, a desculpa de que não inventou nada, apenas reproduziu o que foi dito.

    Não importa se, no momento seguinte, o que foi dito e publicado não faz o menor sentido. É o vírus do apressado noticiário on line entranhando-se nas fibras de papel jornal.

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