quinta-feira, 31 de julho de 2008

O Batman, esse humanista


Ainda não assisti ao filme novo do Batman. Talvez eu assista neste final de semana, conforme estiverem as filas. Sinal de envelhecimento. Em 1989, aos 12 anos, matei aula pela primeira vez na vida para assistir ao filme em seu segundo dia de exibição (era de matemática, portanto não deu muito remorso). Foi no velho Cine Teatro Presidente, que hoje é uma igreja evangélica.

Desde a infância, o Batman sempre foi meu personagem favorito. Para o Super-Homem, tudo é fácil. O Homem-Aranha sempre pode saltar para o prédio mais próximo. Já o Batman é um cara que se supera por conta de suas próprias habilidades, muito mais do que pelas traquitanas que monta. Até hoje, meus dois carros são Batmóveis: um da coleção Superpowers, dos anos 80, em cima da estante dos livros, e um Hot Wheels, modelo anos 60, entre o Darth Vader de chumbo e o computador.

É claro que o personagem não é muito simpático. É durão, e por vezes justifica os meios pelos fins. Mas desta vez tenho lido críticas a ele que o tornam um paralelo de George W. Bush e sua cruzada contra o crime um paralelo à "guerra contra o terror" - este, personificado no Coringa de Heath Ledger (que foi chamado de "anarquista", outro carimbo que me parece injusto). Vou assistir neste final de semana, então terei elementos.

Enquanto isso, leiam os argumentos do Verissimo, no Estadão de hoje, sobre o humanismo do Batman.

    PODERES

    O Batman é um super-herói sem super-poderes. Não voa, não enxerga através do aço, não faz o globo girar ao contrário. O único outro exemplo da espécie que me ocorre é o Fantasma, mas o Fantasma ficou datado. Há algo de irremediavelmente antigo na sua figura, vivendo aquela fantasia de onipotência colonial entre os pigmeus. O Batman, ao contrário, é um herói metropolitano. Só é concebível num cenário urbano onde o gabarito foi liberado. E fica cada vez mais atual.

    Cada nova versão do Batman no cinema é mais sofisticada do que a anterior. Começou como gibi filmado, já foi comédia pós-moderna estilizada, agora - pelo que leio, ainda não vi - é uma tragi-comédia com sombrias referências às paranóias do momento. Batman é reincidente e nunca fica datado porque nunca fica bem explicado, tem sempre uma conotação a mais a ser explorada, um lado da sua personalidade e da sua legenda a ser descoberto e dramatizado. E acho que o fato de não ter super-poderes tem muito a ver com a sua permanência através de todos estes anos, que não foram piedosos com os outros super-heróis clássicos, massacrados pela paródia e o esquecimento.

    Desde o momento em que foi matar uma mosca e demoliu a mesa o Superhomem conhecia seus poderes. Os poderes definiram o homem. Ele não poderia ser outra coisa além de Superhomem, sua vida estava decidida já nas fraldas. Batman escolheu ser Batman. Nada determinava a sua escolha. Não tinha nem a carga genética para guiá-lo, como o Fantasma, que pertencia a uma dinastia de Fantasmas. Se a legenda do Superhomem é uma parábola sobre a predestinação, a do Batman é uma reflexão sobre o livre-arbítrio. A única coisa que une os dois é a obsessão em fazer o Bem - o que torna a escolha do Batman ainda mais misteriosa.

    Ele decidiu ser um homem-morcego. Logo o morcego, bicho hemofágico e ruim, cuja única antropomorfização (com perdão do palavrão) conhecida antes do Batman foi o Drácula. Escolhendo um símbolo do Mal para fazer o Bem, Batman enfatizou seu livre-arbítrio. Nada determina as suas ações, nem a Natureza que fez o Superhomem super e o morcego asqueroso. Sua obsessão pelo Bem é uma escolha moral, desassociada de qualquer imperativo externo. Ele não é um herói para melhorar a reputação dos morcegos nem porque veio de outro planeta predestinado a ser bom, ou porque gosta de usar malha justa. O que a sua legenda nos diz, e talvez por isso dure tanto, é que o ser humano é cheio de imperfeições e maus impulsos, limitado pela biologia e condicionado por mitos e tradições, mas é livre para escolher o que quer ser. E decidir ser justo.

    Está aí, um super-herói do iluminismo. Longa vida para o Batman.

2 comentários:

Elisandra Amâncio disse...

Olá! Assisti ao Batman esta semana. Eu simplesmente ADOREI. Como você, assisti em 1989 (eu tinha 10 anos) no cinema, só que no dia da estréia, quando ainda morava em Guarulhos/SP. Sei lá porque, mas o Batman sempre foi meu super-herói favorito. Acho até por causa desse lado mais humano, mais normalzinho que ele tem. Se machuca, se quebra todo... rsrsrs. Bom, voltando ao novo filme, ele é fantástico, o Coringa uma estrela à parte. A história prende do início ao fim, já estou doida para ver o próximo. Depois conta o que você achou. Abs.

Helô disse...

Marcelo, tens minha simpatia: a idade faz cada coisa com a gente...
Se me reconheço, vou acabar assistindo em casa, acomodada no sofá:(

beijo.

ps - O Presidente não é apenas uma igreja evangélica, é um Centro de Avivamento das Nações - sabe-se lá o que isso quer dizer...