As crônicas da vila de Itaguaí dizem que em tempos remotos vivera ali um certo médico, o Dr. Simão Bacamarte, filho da nobreza da terra e o maior dos médicos do Brasil, de Portugal e das Espanhas. Estudara em Coimbra e Pádua.
Dois séculos depois de o dr. Bacamarte fundar seu famoso sanatório e a todos nele prender pelo que ouvia nas ruas, outra sorte de insânia se apossou da cidade. Ao invés de pôr no hospício, a febre agora é grampear - como relata meu mestre Alan Gripp, hoje na Folha:
- Itaguaí, a 80 km do Rio de Janeiro, ganhou de integrantes da CPI dos Grampos na Câmara o apelido de "grampolândia brasileira". A expressão foi cunhada depois que a comissão descobriu que, em um ano, a única vara criminal do município autorizou mais de 1.110 pedidos de escutas telefônicas --média de três por dia. Segundo a Justiça local, todas atenderam a pedidos da Polícia Federal.
Com pouco mais de 90 mil habitantes, Itaguaí é, de longe, a cidade onde mais se autorizaram grampos no Rio em 2007 --e, acredita a CPI, no Brasil.
Segundo dados repassados pela Brasil Telecom à CPI, a vara criminal do município foi responsável por 243 das 259 decisões judiciais do Estado que chegaram à empresa no ano passado, ou seja, 93,8% do total.
(...)Para a Claro, a Justiça de Itaguaí enviou 874 pedidos de grampos em 2007, informou a operadora. O número representa 31% de todas as decisões judiciais (2.794) concedidas no Estado naquele ano, incluindo, nesse caso, as varas federais do Rio --Itaguaí não tem nenhuma delas. Na capital, a Claro informou ter recebido menos pedidos de escutas (650) em 53 varas estaduais e federais.
A CPI investiga a suspeita de que a Justiça de Itaguaí tenha sido usada como "barriga de aluguel", ou seja, para autorizar grampos de investigações em outras regiões, o que é ilegal.
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