sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Na contramão do mundo

O jornalismo no Brasil está sob sério risco em parte porque tanto empresários quanto sindicalistas não sabem direito como reagir às formas como a tecnologia vem mudando o mundo. O noticiário da última semana ilustra bem isso.

Post meu no blog Jornalismo nas Américas, sobre o futuro dos jornais no Brasil, cujos contornos se viu em parte (muito em parte) no congresso da ANJ em São Paulo:

    O Brasil é um dos países onde a tiragem total dos jornais impressos vem crescendo, em boa parte por conta do crescimento dos jornais populares, baratos ou mesmo gratuitos. Isso embasou o tom de otimismo registrado durante o congresso da Associação Nacional de Jornais, que ocorreu nesta semana em São Paulo. O coro foi desafinado apenas pelos convidados estrangeiros, que vêem no futuro do Brasil os mesmos desafios enfrentados hoje nos EUA.

    Segundo a Folha de S.Paulo, o ministro do Desenvolvimento e ex-executivo de O Estado de S.Paulo, Miguel Jorge, vê um cenário muito positivo para o crescimento do jornal no Brasil. "Em 2020, seremos aproximadamente 210 milhões de brasileiros. Isso significa 23 milhões de pessoas a mais. Metade da população terá mais de 32 anos. A renda per capita média será de cerca de R$ 21 mil, bem maior que os cerca de R$ 13,5 mil atuais", disse em sua apresentação. Todos esses fatores, segundo ele, contribuirão com um aumento na quantidade de leitores.

    Segundo o ex-presidente da ANJ, Nelson Sirotsky, o Brasil tem atualmente 3.000 jornais, sendo 500 títulos diários, e a associação representa 137 empresas, que detêm juntas 90% da circulação diária.

    O otimismo continuou, também segundo a Folha, na apresentação de uma pesquisa mostrando que os leitores associam o jornal impresso à confiabilidade. Segundo o site da ANJ, os leitores entrevistados pela pesquisa consideram o jornal uma "âncora do mundo" (baixe aqui a apresentação).

    A pesquisa de opinião indica que, quanto mais rico o leitor, mais ele consome jornais, segundo a Folha. O dado não mencionado é o de que os principais jornais do país perderam cerca de dois terços de suas tiragens nos últimos dez anos, e que o crescimento do consumo de jornais se dá justamente entre os leitores mais pobres, com os jornais populares, segundo dados recentes do Instituto Verificador de Circulações.

    A nota divergente veio dos convidados estrangeiros. Randy Covington, do IFRA Newsplex, disse à Folha que um cenário semelhante ao dos EUA, em que as tiragens caem e cresce o consumo de notícias pela Internet, pode chegar ao Brasil com o crescimento econômico. "A internet terá impacto crescente. Os jornais no Brasil precisam se antecipar e não cometer erros que jornais nos EUA cometeram. (...) O futuro não é apenas impresso, não é apenas internet, não é apenas notícia no celular. É tudo isso junto."

    Earl Wilkerson, presidente da International Newsmedia Marketing Association, disse que o futuro dos jornais dependerá do que fizerem nos próximos cinco anos para se adaptar a um leitor que consome notícias em pequenas porções durante o dia todo, como um diabético, segundo o site da ANJ. Segundo ele, a abundância de fontes de informação vem mudando os hábitos individuais de leitura, e as empresas precisam se adaptar a isso.

    Rosental Calmon Alves, brasileiro que leciona na Universidade do Texas em Austin, afirmou que as mudanças que ocorrerão na próxima década serão mais profundas do que tudo o que houve nos 200 anos de história da imprensa no Brasil, segundo a Folha. "A cada momento de risco para o negócio nos últimos anos, os jornais se transformaram e continuaram sendo jornais. Agora, terão de se transformar em outra coisa, mas terão de levar os valores dos jornais nessa nova direção", disse.

Outro post meu sobre o futuro mais imediato do jornalismo no Brasil, no mesmo blog:

    O ministro do Trabalho, Carlos Lupi, anunciou durante o congresso da Federação Nacional dos Jornalistas que o governo ainda não tem opinião formada sobre qual é a melhor forma de regulamentar a profissão de jornalista, diz a Agência Brasil. Por isso, serão feitas consultas públicas a respeito.

    “Nós não queremos nos limitar à opinião de qualquer iluminado. Nós queremos ver como se dá a regulamentação dessa profissão de uma maneira que a opinião pública possa opinar. O objetivo dessa comissão é discutir, é ver os prós e os contras, é avaliar de que maneira eficiente, definitivamente, se resolva isso”, afirmou o ministro.

    No final de julho, o ministério criou uma comissão, formada por sindicatos, empresários e representantes do governo, para debater a regulamentação da profissão.

    O congresso da Fenaj também foi palco de uma defesa da obrigatoriedade do diploma para jornalistas, segundo o Capital News. A obrigatoriedade, que deve ser julgada pelo Supremo Tribunal Federal nos próximos meses, foi criada por um decreto-lei durante a ditadura militar, em 1969.

    Durante o congresso, o presidente da Fenaj, Sérgio Murilo, classificou como um "grande retrocesso" a possibilidade de fim da obrigatoriedade.

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