Um estudo feito na Suécia (sempre eles) e relatado hoje no blog Freakonomics aponta: lugares onde a imprensa faz uma cobertura política mais agressiva tendem a ter representantes menos corruptos. A conclusão do estudo de David Stromberg e James Snyder Jr. parece lugar comum, mas ela basicamente quantifica uma impressão (justificada) do senso comum. Você pode baixá-lo aqui.
Este é o resumo que o blog de Steve Levitt e Steven Dubner fez:
- Eles descobriram que parlamentares de distritos cujos jornais cobrem agressivamente a política local tendem a trabalhar mais duro para representar os interesses de seus eleitores.
Tais parlamentares estão mais propensos a romper com seus partidos, mais dispostos a fazer emendas ao Orçamento beneficiando sua localidade e mais provavelmente participarão ativamente das audiências dos comitês do que os representantes de distritos sem uma imprensa local forte.
No estudo, o efeito sobre a prestação de contas é mais forte onde os limites de um mercado de mídia são mais parecidos com os limites de um único distrito eleitoral. Em grandes cidades, onde um jornal pode cobrir diversos distritos, ou em áreas rurais, onde pode haver cobertura nenhuma de jornal, a cobertura da imprensa sobre os parlamentares locais "torna-se mais seletiva e superficial", segundo os autores.
Nesses distritos, menos eleitores conhecem o nome de seu representante, ou mesmo como ele ou ela vota no Congresso. Isso reduz o incentivo para que ele responda às necessidades de seu distrito.
O estudo também aponta que a cobertura do noticiário na televisão tem quase nenhum efeito sobre o conhecimento do eleitor sobre seus parlamentares. Houve resultados mistos sobre a cobertura na internet.
Tudo isso corrobora em parte o que eu escrevia sobre a imprensa do Rio Grande do Sul (a "imprensa bovina", como diz o pessoal do Nova Corja) quando trabalhava na Transparência Brasil. Alguns exemplos do velho blog estão aqui, aqui e principalmente aqui. Este parágrafo resume bem:
- Com esse comportamento da imprensa, o noticiário gaúcho acaba muitas vezes reforçando a percepção errônea de que as terras ao sul são um paraíso da honestidade, consciência política e educação. Muitas vezes, porém, não é que o Estado seja sobrenaturalmente polido, mas que sua imprensa seja mui naturalmente piedosa.
(...) Apenas 70 dos assuntos do Deu no Jornal se referem ao RS, contra 125 da vizinha Santa Catarina, 106 do Espírito Santo (quando você leu pela última vez sobre a terra do Rei Roberto Carlos?), 168 do Paraná, 109 de Goiás e 98 do Maranhão dos Sarney. Até o Acre, esse ilustre desconhecido da maioria dos brasileiros, praticamente ignorado pelos grandes jornais, tem 77 assuntos no banco de dados. Cheque neste link os dados de seu Estado favorito.
Nunca esqueço a expressão de espanto do grande Graciliano Rocha, correspondente da Folha em Porto Alegre, quando estourou o escândalo da Yeda e aquelas gravações fabulosas ("Posso falar por telefone? Eu cobrei um milhão e meio") vieram à tona. Mestre Gra me telefonou empolgadíssimo no dia em que saíram as transcrições:
-- Rapaz!!! Essa tua terra é sensacional, nunca vi nada desse jeito!
A lhaneza de modos da imprensa local explica muito a tranquilidade dos políticos locais em fazer o que bem entendem, como se tem visto.
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