Relendo os textos dos últimos dias, percebi que o grau de sarcasmo anda além até mesmo do meu normal. Isso pode passar sinais errados a leitores mais literais. Ocorre que, quanto mais eu leio o noticiário, mais me parece que o Brasil está destinado a fazer jus cada vez mais à frase que De Gaulle nunca disse.
Vamos falar bem sério e literalmente um pouquinho.
Não dá pra levar a sério as instituições brasileiras, especialmente se você se mantém informado a respeito. A tendência que me parece se desenhar é a de a coisa piorar ao longo do tempo. Em todas elas há focos de seriedade, mas eles ficam pressionados de um lado pela inépcia de quadros dos quais dependem e de outro por um ambiente institucional desenhado para a malandragem.
Não há absolutamente nada que se possa fazer para resolver de vez o problema, porque ele é muito pulverizado. Eu diria que é mais complicado do que a indústria da música acabar com a troca de arquivos em MP3 na internet. Quem disser que é possível está enganando ou sendo enganado. No máximo dá pra pressionar por medidas mitigantes, especialmente medidas de transparência. Mas não dá pra contar com a razoabilidade de quem pode aprovar essas medidas. Especialmente se forem medidas de transparência.
Assim, eu costumo exagerar dizendo que só a bomba atômica nos redime. Na falta dela, o cinismo torna-se arraigado entre os que ainda são masoquistas o bastante pra continuar se informando a respeito (incluindo aqui este escriba) e a apatia se alastra entre quem não tem mais saco pra acompanhar. E, quando endêmicos, o cinismo e a apatia têm um efeito tão nefasto quanto o da bomba atômica. Com a diferença de que, por serem muito menos dramáticos, não instam reação além da retórica.
Assim sendo, volto à ironia.
Você também já se pegou pensando que a única solução do Brasil é a bomba atômica? Não a posse da bomba atômica, mas algo tipo Hiroshima? (Não que faça muita diferença. Tenho a impressão de que, se o Brasil tivesse bomba atômica, ia acontecer inevitavelmente algo tipo Hiroshima, por descuido, zoeira ou propina.)
Apresento-lhes, então, o Ground Zero, um site que mostra num mapa que efeito faria uma bomba atômica se jogada sobre um ponto específico. Você escolhe o tipo de bomba entre as que já existiram ("Little Boy" e "Fat Man", por exemplo, foram as que acertaram Hiroshima e Nagasaki), escolhe onde jogar e observa seus efeitos. Aqui:
Eu escolhi a Praça dos Três Poderes e a bomba termonuclear "B61". Ela não causa tanto estrago assim, pois os efeitos não iriam muito além de Brasília. Escolha você também e observe no mapa. No ponto onde a bomba caísse, todos morreriam dentro de 24 horas. No círculo roxo escuro, haveria casos de pele carbonizada e necrose, demandando cuidados médicos. No círculo roxo claro, o efeito seria como o de queimaduras por água fervente. No círculo cor-de-laranja, o efeito seria como o de queimaduras fortes do sol.
Brinque um pouco você também. Escolha seu lugar favorito e bombardeie à vontade. É só uma simulação de computador, mesmo.
Se você pudesse bombardear algum lugar no Brasil, qual seria? Que providências tomaria? Eu, pessoalmente, avisaria os amigos antes.
9 comentários:
O sarcasmo vai muito bem quando lidamos com o óbvio que não é levado a sério, como no Brasil.
Polêmico e sarcástico, somente não concordo com a tal de bomba atômica. Aí vc pegou pesado d+. Contudo, o que precisamos é aprender a cobrar mais atitudes sérias de nossos governantes.
Abraço,
Acredito que os seus leitores não são pessoas que só lêem sob uma visão literal. Então, não precisa se preocupar c/ desculpas. Quem não leva a seriedade com humor, está perdido. abs
Conheces a tal dor da lucidez? Pois é... nada nos resta além da ironia e da indignação. Sobre a bomba... sonho com o impacto de um asteróide que redima o planeta.
Alesscar, acho que o pessoal que vem sempre aqui não é literal. Mas sempre vem gente nova, então vale dar uma lembrada.
Barone: dá pra simular o impacto de um asteróide também com aquele treco. Se caísse em Brasília, afetava toda a América do Sul toda a América Central, um pedaço dos EUA e um naco da África.
Notas, seja bem vindo. Volte sempre e leia os textos anteriores.
Gabriel: a coisa é triste mesmo.
Quanto mais te leio, mais descubro tuas semelhanças com meu filho -além do nome.
Eu, por pudores pueris que me bloqueiam (quando deveria chutar o pau da barraca), não sei se quero brincar de Day After. Mas o Marcelo certamente terá uma boa idéia. Vou já passar prá ele.
E concordo com o Barone. Não é só o Brasil, o planeta inteiro merecia uma faxina. Como raça, somos os piores vírus que surgiram. A velha e boa Terra passaria muito bem sem nós.
beijo de bom fim de semana
ps - nossa, nem eu mesma sabia que estava tão amargurada. Já já abro uma garrafa de vinho prá melhorar o astral.
A primeira que me veio à cabeça quando li a sugestão da bomba atômica foi a patrulha politicamente correta. Diriam os patrulheiros que não se pode brincar com algo que matou milhares de pessoas, blá, blá, blá. É o lugar comum, o politicamente correto estúpido. Agora, vou lá pegar meu enola gay!
abração
Depois do segundo cálice de um bom malbec, sem tantos pudores, resolvi experimentar. Usei uma "Little Boy", modesta. Um cálice prá quem adivinhar o endereço no Planalto Central...
Bomba atômica... Watchmen?
E por que não? Afinal, está claro que a Humanidade não é composta mesmo por seres racionais, e uma dose anormal de irracionalidade costumo nos colocar de volta ao lugar.
E não.. não avisaria meus amigos. Na verdade, nem mesmo eu sairia do ground zero. Não devo me considerar melhor que o resto (V for Vendetta).
Postar um comentário