segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Os grandes debates da humanidade

Conta o sempre alerta Blog dos Quadrinhos, do Paulo Ramos, que a revista "Discutindo Literatura" acaba de lançar um especial dedicado às histórias em quadrinhos. Segundo ele, o tema subjacente do especial é o debate sobre se quadrinhos são ou não literatura.

Outras revistas têm ido pelo mesmo caminho. Se você observa bem as bancas, deve ter visto há poucos meses a revista "Imprensa" trazer em sua capa o candente debate sobre se blog é ou não jornalismo.

Interessantíssimo e pertinente debate, eu diria. O que me traz novas e fascinantes idéias de pauta. Caso a editora Escala queira criar uma revista chamada "Discutindo Decoração", por exemplo, poderia lançar um especial com um amplo dossiê sobre se sofás são ou não cadeiras. Ou se geladeiras são ou não armários. Ou mesmo se janelas são ou não portas.

Pessoalmente, considero um erro grave de lógica absolutizar duas coisas distintas (e heterogêneas em si) para compará-las. Geralmente isso leva em conta duas coisas: a aparência mais superficial e a percepção de "superioridade" de uma em relação a outra. Pessoalmente, acho que a questão só causa polêmica quando um dos fatores é um ilustre desconhecido de quem levanta a lebre. Pode haver pontos em comum mas, de resto, como dizia aquele sábio, uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa.

Um trecho do meu comentário sério:

    Fãs de gibis citam de cor vários exemplos que poderiam ser considerados ficção do mesmo naipe da melhor literatura. Mas elas são a minoria dos quadrinhos. Assim como "literatura" não é uma coisa homogênea. É um erro colocar Alan Moore no mesmo saco de James Joyce, porque um "faz quadrinhos" e outro "fez literatura". Parece óbvio. Mas também é erro pôr James Joyce no mesmo saco de James Clavell, embora ambos "sejam literatura", bem como jogar Alan Moore no mesmo saco de Alan Sieber, embora ambos "sejam quadrinhos".

Pessoalmente, acho que esse tipo de debate geralmente se concentra em áreas que a média do pessoal conhece pouco. Qualquer atividade que exija leitura costuma cair nessa vala comum.

Por isso é que eu propus de brincadeira mudar o foco para a decoração, que é uma coisa que todo mundo mais ou menos conhece um pouco. Geladeira e armário, pelo menos, todo mundo conhece e, se não tem em casa, pelo menos sabe usar.

Ninguém em sã consciência diria que geladeira é armário. Ambos têm porta, claro. Ambos servem pra botar coisas dentro. Mas todos sabem que uma serve para uma coisa e o outro serve para outra. Eventualmente você pode guardar o pão na geladeira. Ou os bombons, especialmente se fizer calor. Eu sempre guardei ovos na geladeira, mas recentemente soube que é melhor guardá-los no armário. Leite de caixinha eu guardo no armário quando está fechado e ponho na geladeira depois de abrir. Mas só coloco a cerveja no armário quando não pretendo bebê-la hoje. Também evito guardar minhas roupas dentro da geladeira, por praticidade.

Parece óbvio demais? Pois a relação entre quadrinhos e literatura, ou entre blog e jornalismo, ou entre sofá e cadeira, é mais ou menos assim.

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