segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

O sagrado direito ao sifu


A nova crise brasileira é a Crise do Sifu, dileta filha da Crise do Top-Top. Um dos aspectos mais debatidos sobre os impactos da crise econômica no Brasil é a prerrogativa (ou falta dela) para o presidente usar termos como "sifu" e "diarréia" em seus discursos.

Tudo começou quando, ao lançar o fundo do audiovisual, o presidente comentou desta maneira a forma como vem negando que o Brasil esteja em crise:

    Imaginem vocês, se um de vocês fosse médico e atendesse a um paciente doente, o que vocês falariam para ele? Olha, companheiro, o senhor tem um problema, mas a medicina já avançou demais, a ciência avançou demais, nós vamos dar tal remédio e você vai se recuperar. Ou você diria: meu, “sifu”. Vocês falariam isso para um paciente de vocês?

O argumento tem sua lógica, diga-se, embora eu não goste do exagerado tom de rosa com que o governo pinta o cenário. Mas, por iniciativa da oposição no Congresso, o problema é o Sifu da discórdia. Essa mesquinharia entra na conta da política bravateira e do jornalismo declaratório que se tem no Brasil, infelizmente. Viva-se com eles.

Eu, pessoalmente, acho que todos têm direito de usar o Sifu. Pode soar grosseiro a ouvidos de fada, vá lá, mas está longe de ser um escândalo. A forma como o governo lida com a crise envolve coisas bem mais complicadas do que o palavreado do presidente. Por exemplo: a secretaria de imprensa do Planalto omitiu voluntariamente a divulgação da íntegra do discurso do presidente ou não?

Ela esqueceu de enviar o discurso a todos os jornalistas que recebem por e-mail rigorosamente todos os discursos do presidente, num serviço importante prestado por ela a qualquer um que queira acompanhar melhor a política brasileira. Muitas vezes, eu só entendo de fato o que estava sendo dito quando, instado por uma aspa selecionada, vou atrás do discurso inteiro. Segundo o Josias de Souza, originalmente quando o texto foi para o ar o "sifu" não estava lá. Estava como "inaudível".

Obviamente, como sói acontecer no Brasil, a secretaria de imprensa do presidente diz que não enviou por erro, e não por censura. E também diz que originalmente tirou o sifu por erro, e não por censura.

Tendo sido a omissão de fato voluntária, por parte de algum assessor mais realista que o rei que tenha esquecido a invenção da televisão, que raio ele estava pensando? Tudo bem que ele calculasse que essa ia virar a irrelevância mais comentada da semana, dando ensejo a ataques ao Lula, mas adiantou? Não, só abriu mais um flanco. A própria assessoria do Planalto reconhece isso:

    “Seria inútil tentar fazer no texto algum tipo de censura, já que também disponibilizamos o áudio dos discursos”, afirmou o secretário de imprensa.

O que me preocupa não é se o presidente disse "sifu" ou não. O que me preocupa é se o país vai "sifu" ou não. O governo vem negando e dizendo para todo mundo torcer pelo Brasil. Aliás, era exatamente disso que ele falava quando soltou o sifu da discórdia. Mas, até aí, a assessoria de imprensa do presidente também negou ter omitido voluntariamente o discurso.

    SERVIÇO: A íntegra do discurso, com "sifu" e tudo, está neste link.

Um comentário:

Altavolt disse...

Quem invariavelmente sifu é o povo brasileiro!!!