sábado, 24 de janeiro de 2009

Em nome do carro, Paulista Viva quer se livrar do ônibus


Em qualquer lugar do mundo, toda espécie de política para redução do trânsito passa por desincentivar o carro e incentivar o transporte público.

A conta é simples: numa cena de congestionamento, calcule quantas pessoas estão dentro de todos os carros e calcule quantas estão dentro de todos os ônibus. Agora calcule quanto espaço é ocupado por todos os carros e quanto espaço é ocupado por todos os ônibus. Calcule também quanto espaço precisa pra estacionar os carros ao chegarem e quanto espaço precisa pra estacionar os ônibus.

Só pra simular a conta: considerando uma média arbitrária de 1,5 passageiros por carro (que me parece alta no congestionamento de São Paulo, onde cada carro geralmente carrega um só passageiro) e de uns 60 passageiros no ônibus (o que me parece uma lotação bem pouco apertada, considerando 15 assentos de dois lugares de cada lado, sem ninguém em pé), um ônibus tiraria 20 carros da rua, ocupando mais ou menos o lugar de dois.

Pois é. Na contramão da lógica e a favor do transporte individual, a Associação Paulista Viva tem uma opinião completamente diferente, segundo a Folha de hoje:

    Para o presidente da associação Paulista Viva, Nelson Baeta Neves, o tráfego de ônibus na avenida é o fator desencadeador dos congestionamentos. "O trânsito é o pior pior problema mesmo na Paulista. Precisa tirar o congestionamento de ônibus. Gera poluição ambiental, sonora, visual e adensamento dos veículos. O tráfego é absurdo não por causa dos carros, é por causa dos ônibus", disse.

    Baeta Neves cita uma experiência que foi sugerida por Olavo Setúbal, ex-prefeito de São Paulo e presidente da associação de 1996 a 2001 e que foi aplicada na época.

    "Quando ele [Setúbal] assumiu o prazo médio de intervalo entre os ônibus era de um minuto. Ele lutou e conseguiu chegar a um espaçamento médio de três minutos. Agora voltou tudo de novo. Não pode. A Paulista não é de escoamento de tráfego. É de tráfego local", afirmou Baeta Neves.

    A solução proposta pela associação para melhorar o tráfego na Paulista é a retirada da circulação dos ônibus. Somente um circularia pela avenida, para aqueles que não puderem andar, de acordo com o presidente da associação. "Se tirar os ônibus a situação melhora bastante".

Considere a quantidade de gente que trabalha na Paulista e adjacências. Considere a largura das ruas que cercam a avenida. O que fazer com aqueles ônibus e com os que deles precisam pra ir trabalhar? (Aliás, será que é por causa dessa opinião que nunca foi feito um corredor de ônibus na Paulista, mesmo com aquele baita canteirão que só serve de enfeite?)

Doutor Neves, o senhor é um pândego. Um pândego.

Mas bom. Agora compare as aspas do Baeta Neves com as declarações do ex-prefeito e hoje consultor de urbanismo da ONU Jaime Lerner ao jornal El Mundo, da Espanha, também publicadas hoje:

    P.- Para usted, el automóvil es el villano de la película urbana.

    R.- La ciudad concebida en función del automóvil es un proyecto inviable. En este tipo de ciudades se pierden infinidad de horas de trabajo a causa de los atascos y de la búsqueda de estacionamiento. A tal punto que el Banco Mundial u otras instituciones financieras se plantean la posibilidad de recortar los créditos a los municipios que no resuelvan el problema del tránsito motorizado. A las personas que me consultan les digo que con trazar nuevas vías automovilísticas lo único que consiguen es restar cabida a los espacios verdes.Es penoso ver cómo las circunvalaciones y las calles superpuestas mutilan el organismo vivo de una ciudad. Lo descuartizan.

    P.- La solución es un buen transporte público. Pero a usted el Metro tampoco le agrada.

    R.- El futuro del transporte público está en la superficie. En la mayoría de las ciudades donde existen redes suburbanas, éstas fueron creadas décadas o siglos atrás, cuando todavía era rentable excavar bajo la superficie. El Metro, como medio de movilidad ya establecido, funciona bien. Pero si nos proyectamos hacia el futuro, será muy complicado trazar nuevas líneas. Fíjese que en Nueva York tardaron 30 años -¡una eternidad!- en dirimir los pleitos judiciales relacionados a la apertura de la línea de la Segunda Avenida, y las obras para mover los desagües, las cloacas, sólo acaban de comenzar.

6 comentários:

Anônimo disse...

Assim fica difícil... Temos enfrentados problemas em várias cidades do Brasil. Algumas incentivam soluções (poucas ainda) e outras só se enrolam mais como neste caso em Sampa.

Em Manaus o transito é caótico e não existe só uma hora para um engarrafamento, existem engarrafamentos sazonais ao longo do dia. E uma das frotas de carros mais novas do país.

Anônimo disse...

Claro, ônibus é sinônimo de pobre. E pobre é feio.Já imaginou um executivo ao sair para almoçar e pegar seu nissan e ver um ônibus cheio de pobres?

durruti disse...

A relação de espaço ocupado pelos carros e pelos ônibus é muito pior na realidade. Se o trânsito estiver andando - 20 km/h cada carro por exemplo - ocupa um espaço muito superior a 5 m (sprox. a dimensão do carro). Se não houver espaço suficiente a velocidade diminui. Ou seja 1 carro ocupa o mesmo espaço de um ônibus. Daí a vantagem dos ônibus articulados: em movimento ocupa o mesmo espaço de um carro.


O grande problema deste cara é que ele nunca andou de ônibus na vida. Para ele ônibus é aquela coisa feia que faz barulho e incomoda. Está além da imaginação dele uso menos intenso do carro. Seria necessário um esforço criativo imenso ele imaginar ter qualidade de vida sem carro.

Marcelo disse...

E tem mais um fator que eu não coloquei ali. Os ônibus de São Paulo são poluentes e barulhentos muito por falta de pressão do poder público pra resolver isso.

Mario disse...

Escrevi um post parecido, bem mais curto, mas que questiona também a Folha de S. Paulo. É a segunda mancada nesse tema que o jornal em uma semana. Está esquisito isso. Eles deveriam ver o que o Estadão anda fazendo.

Anônimo disse...

Fiquei tão revoltado quando li a matéria, que não pude deixazr de me manifestar.
Enviei um fax à Associação Paulista Viva criticando, e por quais razões, a "solução" desse segregador....
se quiserem, meu contato é edupintado@hotmail.com