O historiador marxista Eric Hobsbawm, autor do best-seller "A Era dos Extremos", está hoje com 91 anos. Segundo o Guardian, ele teve negado seu pedido para ver o que o MI-5, o serviço secreto britânico, mantém arquivado a seu respeito - mesmo sendo ele um dos 45 agraciados com o título oficial de "Companion of Honour".
Por suas idéias, ele era automaticamente considerado suspeito, embora ele próprio não acredite que tenha tido alguma atividade potencialmente danosa mesmo a um governo ao qual se opusesse. "Até onde eu saiba, nunca estive envolvido em nada de interesse de segurança nacional. Acho que o único motivo pode ser que o pessoal da segurança não quer entregar quem fofocava sobre mim para as autoridades".
Talvez. Esses caras costumam ser bem fofoqueiros mesmo. Em 1968, por exemplo, registram os arquivos ingleses que a polícia deu uma batida procurando drogas numa festa onde estariam John Lennon e Mick Jagger, entre outros. Acharam maconha, mas Lennon dizia ter sido plantada. Mas isso é o tipo de documento que aparece. O FBI, por exemplo, passou anos negando acesso a dados sobre a vigilância que fazia sobre as atividades antiguerra do Beatle.
Os casos de Hobsbawm e Lennon são ruins, claro. Mas há países piores - como o Brasil, por exemplo, onde os milicos negam até a existência de documentos. Pense-se o que quiser a respeito das idéias de Hobsbawm, Lennon ou dos militantes do Araguaia, o que está em jogo é o registro da história e a manutenção em segredo de coisas que, tantos anos depois, não correm mais o risco de pôr país nenhum nas garras de um império que faliu.
Enquanto isso, resta ao velho historiador usar a fleuma, esse instrumento tão britânico, pra explicar o motivo da curiosidade sobre seus arquivos:
"Ver os papéis pode me ajudar a corrigir algum erro na minha autobiografia."
domingo, 1 de março de 2009
Pra biografia
Postado por Marcelo às 22:27
Marcadores: cultura política, direito de acesso, gente que não presta, sociedade da informação
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