sexta-feira, 26 de outubro de 2007

Informação pela metade

Toda semana, várias instituições publicam estudos e estatísticas importantes e reveladores sobre o Brasil e o mundo.

Hoje, por exemplo, o IBGE divulgou o Perfil dos Municípios Brasileiros - uma pesquisa com vários dados sobre a administração pública dos mais de 5 mil municípios do país. Há poucas semanas, saiu uma semelhante sobre cultura nos municípios.

Se você se der ao trabalho de ler a cobertura publicada hoje a respeito do estudo nos sites noticiosos, vai observar que:

    1) Ela vem fragmentada, chamando para uma conclusão por vez. Isso não é ruim. Faz parte da forma de organização do jornalismo na internet, e traz muitas vezes dados reveladores como este: em São Paulo, 420 municípios têm internet na sala do prefeito, enquanto apenas 277 têm internet nas escolas.

    2) Quase nenhuma notícia traz o link para que o leitor tenha acesso ao estudo. Muito poucas trazem sequer o título do estudo. No caso de hoje, enquanto 442 notícias do Google News têm as palavras "IBGE" e "municípios" (o que pode incluir notícias não-relacionadas), apenas 55 citam o título "Perfil dos Municípios Brasileiros".

Muitas vezes tive dificuldades para encontrar os dados de pesquisas noticiadas que achei interessantes - especialmente as que não são do IBGE, cujo site me é mais ou menos familiar.

Uma das principais vantagens do jornalismo na internet sobre o impresso ou transmitido pelo rádio ou TV é justamente a possibilidade de acrescentar profundidade mesmo a textos curtos por meio de links para conteúdo mais aprofundado. Se o leitor quer apenas saber o básico, lê a notícia. Se quer se aprofundar, vai ao estudo.

Isso serve até como medida de transparência. Se o leitor, sabendo o quanto os jornalistas são broncos em se tratando de matemática, duvida de uma conclusão, pode ir direto à fonte. Fica claro de que cartola saiu o coelho.

Os sites de notícias prezam bastante a quantidade de notícias. Alguns medem sua produtividade pela quantidade de textos publicados por minuto. Mas o maior barato da internet - e que não é tão difícil ou trabalhoso de fazer - acaba ficando de lado. Aliás, essa é a maior crítica que já vi de blogueiros em relação aos blogs de jornalistas: que dificilmente usam links.

Isso não faz sentido especialmente dez anos depois de a internet chegar às redações. O argumento de que muitos brasileiros não têm acesso à internet, usado à farta para justificar o fato de algo não ser feito, é um argumento porco. Muitos menos lêem jornais de papel. Quanto melhor o serviço entregue a eles, mais fácil o cidadão voltar e indicar aos amigos.

Mesmo para publicar na internet, os jornalistas continuam usando os computadores como máquinas de escrever cheias de luzinhas.

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