terça-feira, 23 de outubro de 2007

Uma mente polêmica

Na última semana, o nobelizado biólogo James Watson foi demonizado por todos os lados por causa de declarações desastradas publicadas num perfil do jornal inglês The Times. Nos últimos anos, ele tem se notabilizado como uma espécie de Dercy Gonçalves científica - aproveita a idade pra falar o que dá na telha, pra chocar mesmo. Na pior das hipóteses, sempre vai aparecer alguém dizendo "tsc, tsc, tá caduco".

Escrito por uma ex-assistente sua, o perfil publicado no dia 14 relembrou várias das antigas polêmicas em que Watson se meteu - e iniciou a nova com a malfadada frase sobre o link entre diferenças étnicas e desigualdades intelectuais. Vale a pena ler o perfil inteiro, até para contextualizar melhor a frase.

O que aparentemente ele não esperava era precisar cancelar a turnê de sua biografia, "Avoid Boring People" ("Evite Gente Chata", ainda não publicada no Brasil) e ter de deixar o laboratório em que trabalhava devido à controvérsia toda. Ou esperava? Vejam este parágrafo, logo após o da frase controversa:

    Watson sem dúvida vai rebater entusiasticamente as inevitáveis críticas que surgirão. Ele certa vez comentou com um amigo cientista - talvez com otimismo - que "certamente não está longe o tempo em que a academia não terá escolha além de devolver o politicamente correto aos políticos”. Mesmo depois de um ano trabalhando no laboratório, ainda me enerva sua compulsão tipo "pro-diabo-com-isso" de falar o que pensa. Os críticos podem ver sua aceitação de estudos "ciência-soft" - que tentam ligar o QI a genes específicos, sem levar em conta a sociedade ou outros fatores na equação – como uma abordagem perigosa de uma questão complexa. Seus comentários, entretanto, embora aparentemente descuidados, são sempre calculados. Não por mal, mas com o ar traquinas de uma grande mente esperando ser desafiada. Eu pergunto a ele como acalma aqueles que ofende. "Eu tento usar o humor ou o que eu puder pra indicar que eu compreendo que outras pessoas tenham pontos de vista diferentes", explica.

Ou será que a intenção da assistente era puxar o tapete de Watson mesmo, pra dar uma lição ao homem que anteriormente disse que mulheres não levam jeito pra fazer ciência? Difícil saber. Faz parte do lado "Caras" da coisa, que realmente não me interessa.

A parte mais curiosa está no final: são as "dicas de sucesso" de James Watson.

    - Sempre tome decisões necessárias antes de precisar

    - Seja o primeiro a contar uma boa história

    - Não apóie esquemas que exijam milagres

    - Nunca seja a pessoa mais brilhante da sala

    - Só peça conselhos que vá depois aceitar

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