O Luiz Edmundo, um dos mais ativos leitores dos meus blogs, fez uma provocação interessante nos comentários sobre o perfil de Garibaldi Alves:
- Soluções radicais. Eu estou pensando em entrar para a turma que defende o voto nulo. Vou produzir panfleto e camiseta, quem sabe abrir um blogue só para isso.
O voto nulo se inscreve numa antiga e respeitável tradição de protesto político. Aqui ao lado está o rinoceronte Cacareco, eleito vereador em São Paulo em 1959. Já em maio de 1898, o autor anarquista francês Zo D'Axa publicava um inflamado panfleto em defesa da prática, demonstrando uma indignação semelhante à do Luiz Edmundo.
Acho o voto nulo uma escolha pessoal válida, mas coletivamente é uma estratégia que não funciona.
A contagem final dos votos leva em conta apenas os válidos. E os candidatos que a gente não quer ver eleitos sempre terão votos - seja por popularidade, por tradição política ou por compra de votos mesmo. Se todo mundo que deseja protestar votar nulo, mesmo assim esses candidatos terão votos - e em percentagens ainda mais gordas.
Situação complicada, não? Eu confesso que não sei o que fazer em relação ao voto. Para o Legislativo é mais fácil - sempre tem um mais razoável pra votar. Para o Executivo, prefiro escolher um candidato que não me seja inaceitável, mesmo que não tenha chance nenhuma de ganhar. Mesmo que meus escolhidos não ganhem, pelo menos ajudei a avacalhar as percentagens dos que eu não quero eleger.
(É claro que há riscos nessa postura de votar num "anticandidato". Em 2002, o Enéas acabou sendo um anticandidato à Câmara. Levou um milhão e meio de votos, possivelmente muitos deles por zoeira. Com sua grande percentagem, ele levou cinco de seu partido lá para dentro. Eles eventualmente migraram para outros partidos. Boa parte deles acabou implicada nas primeiras denúncias do escândalo dos Sanguessugas.)
Até hoje o sistema democrático - o pior que existe, excetuando todos os outros, como diria Churchill - está em fase de aperfeiçoamento. E vai continuar por bastante tempo ainda, especialmente nos lugares mais atrasados como o nosso cantinho no mundo. Esse aperfeiçoamento passa não apenas pelo voto, mas também pela prestação de contas radical (que deve ser exigida) e pelo controle social dos eleitores sobre os eleitos (que deve ser fomentado).
A difusão de informações sobre como funcionam as entranhas da política sempre ajuda a qualificar o voto. É o que procuro fazer no meu trabalho. Entre eles, os eleitos sempre souberam as pendências que seus excelentíssimos colegas têm com a Justiça e as relações que mantêm com quem banca sua campanha. Desde o ano passado, todo cidadão também pode saber facilmente pelo menos a parte registrada disso.
Até hoje ainda persistem no Brasil ranços de sigilo exagerado. Um sigilo que não deveria ter lugar na tal sociedade da informação. Tome por exemplo o uso que Renan Calheiros fez, em dossiê, dos gastos dos colegas senadores com verbas indenizatórias. Por que o Renan Calheiros pode saber deles e eu e você não poderíamos? Foi em parte por isso que a Mesa Diretora do Senado aprovou a publicação dos gastos com verbas indenizatórias na internet (possivelmente a partir de janeiro, quatro anos após a Câmara). É um raciocínio muito simples: se a informação está disponível para todos, não pode ser usada como privilégio e nem para chantagem. Todos ganham com isso.
Mas e com o voto, o que fazer? Falta menos de um ano para as eleições municipais.
A caixa de comentários está aberta à sua participação. E estou abrindo uma enquete aqui ao lado.
4 comentários:
Rapaz, essa enquete me pegou de novo, como a anterior. Vou pensar!
Grato! Sinal de que a enquete está bem formulada.
Marcelo, concordo com todos os seus argumentos, agora, pense nisso: se uma boa parte dos que chamam os políticos de ladrão e não estão dispostos a negociar seus votos por telhas, botas, metade de cédulas ou promessas de emprego, votarem nulo? Se dentre todos os votantes de determinado pleito, uns 30% votarem nulo? Os ladrões vão continuar se elegendo, segundo seus corretos argumentos, mas que vai ser uma porrada bonita a rejeição dessa parcela de eleitores, isso vai! Se numa eleição majoritária isso acontecer, é a própria opinião pública se manifestando. E a repercussão desses números no restante da população? E a credibilidade desses senhores corruptos rejeitados por fatia tão significativa de eleitores?
Seria uma porrada, claro. A população ficaria indignada, como de fato fica. Mas o maior problema é que só quem pode mudar a composição da oferta ao eleitorado são os partidos. E isso é muito difícil. O que me parece é que se espera que eles tenham uma ressaca moral e mudem de atitude. Mas nunca vi político enrubescer... *risos*
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