O Los Angeles Times publicou no dia 31 mais uma reportagem em que colaborei: Brazil's now a hot commodity.
Fazia muito tempo que eu não cobria economia. Meu papel foi basicamente o de buscar fontes para o correspondente. Trabalho difícil em final de ano. O que mais nos espantou foi o quanto muitas assessorias de imprensa jogam na zaga, praticamente escondendo as fontes da empresa para a qual trabalham.
É um comportamento perfeitamente esperado e até compreensível, por exemplo, quando se trata de fontes acusadas de crimes. Ou de jornais "nanicos". Mas, em uma matéria para a imprensa estrangeira sobre o bom momento econômico do Brasil, me surpreendeu. No fim, conseguimos até algumas das entrevistas consideradas mais impossíveis pelos assessores. Mas não graças a eles.
Houve um caso em que o assessor me enrolou por cinco dias, para na última hora descobrir que a fonte estava em viagem ao exterior desde dias antes do meu primeiro contato. Eu queria enforcar o sujeito. Ele não foi o único a me enrolar. Praticamente todos, menos um ou dois, fizeram coisa parecida. Muitas vezes, era algo na linha de não resolver o problema e nem dizer que não ia dar.
Pessoalmente, até pra evitar esse tipo de situação, evito as assessorias sempre que posso. Falar direto com as fontes ou suas secretárias dificilmente falha, quando disponho do contato.
Isso levanta questões importantes sobre a finalidade de existência das assessorias. É um mercado que cresce bastante, pra quem se dispõe: a Assembléia Legislativa de São Paulo acaba de abrir 94 vagas, voltadas a diplomados em jornalismo, com salários bem razoáveis em termos brasileiros. Mas qual é de fato a função delas? Tenho cá minhas dúvidas, muito sérias. Às vezes parece que elas estão mais empenhadas em esconder notícias do que em informar. Este estudo da Abraji mostra o quanto. É claro que há as exceções (tudo o que sei sobre lei eleitoral aprendi com as dedicadas moças da assessoria do TRE-SP), mas elas me parecem ser apenas o oásis no deserto. Adoraria estar errado.
A Adriana Santana trata desse assunto com muito mais propriedade do que eu no blog Jornalismo Cordial. Mas, claro, se você quiser dar seu palpite aqui, a caixa de comentários está à sua disposição.
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2 comentários:
Há muitos anos atrás trabalhei na Secretaria de Comunicação, da Prefeitura de Salvador. Era ainda estagiário. O trabalho que fazíamos era acompanhar o noticiário sobre a prefeitura: pontos positivos eram menos importantes que os negativos. Por exemplo, uma reclamação sobre falta de esgoto, era "respondida" em nota pela secretaria, com uma promessa de obra. Muitas das notícias positivas que saiam sobre a prefeitura eram "fabricadas" na SECOM, por isso menos importantes. As negativas precisavam ser combatidas para melhorar a imagem.
Normal, Marcelo. Trabalhei em uma como estagiário, nos anos oitenta. Era na prefeitura de Salvador. Notícias positivas eram fabricada e filtradas. Notícias negativas podiam orientar ações ou mereciam respostas estudadas. Faltaram aspas em algumas palavras, mas o que quero dizer é que, como nos jornais, se publica ou se divulga, o que é politica e ideologicamente interessante para o dono do jornal ou para o mandatário superior ao qual os acessores prestam serviço. Luiz Edmundo (não tenho nem sei o que é URL)
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