A repórter Jennifer LaFleur, que por anos foi instrutora de reportagem com o auxílio do computador na NICAR, escreve no Dallas News sobre como os cidadãos podem acessar e usar registros públicos para facilitar suas vidas.
O jornal até mesmo criou na internet um centro de dados que foram notícia, para que os leitores possam acessar os dados brutos e pesquisarem o que lhes interessa.
ISSO é usar a internet com inteligência.
Um bom exemplo do que acontece quando os jornais colocam na internet para qualquer leitor ler as planilhas com que trabalham foi publicado neste domingo, no Estadão.
Comentei durante a semana passada o fato de o jornal ter colocado na internet a planilha com os parlamentares que receberam dinheiro de bancos em suas campanhas eleitorais (baixe aqui a planilha).
No domingo, o jornal publicou uma reportagem mostrando que os dados de algumas doações registradas na Justiça Eleitoral atribuíam ao Unibanco dinheiro doado por empresas que incluem até um frigorífico. Ninguém sabia disso, nem ninguém tinha reclamado, antes de o jornal publicar a reportagem anterior, colocando a planilha na internet.
Questionado a respeito, o TSE indicou que o problema pode ser ainda mais grave:
- Por meio de sua assessoria, o TSE esclareceu que não processa outras contas que não as de candidatos a presidente da República. A contabilidade de candidatos a outros cargos é de responsabilidade dos Tribunais Regionais Eleitorais (TREs) dos Estados, que as enviam ao TSE, encarregado legalmente apenas de torná-las disponíveis, não de manuseá-las.
(...) O TSE informou que vai tentar descobrir o que aconteceu, mas adiantou que não tem como conferir, uma a uma, a contabilidade de campanha de todos os candidatos a deputado federal e a senador, nem pode, legalmente, corrigi-las. Também explicou que a veracidade das informações é de responsabilidade dos candidatos, que, se quiserem corrigir as contas, devem pedi-lo aos respectivos TREs.
Segundo o TSE, em relação a senadores e deputados a lei determina que deve divulgar a contabilidade, não sanar os erros. Essa, insistiu, é função dos tribunais estaduais, a partir de iniciativa dos candidatos.
Não foi por falta de aviso que isso aconteceu. O Claudio Weber Abramo, diretor da Transparência Brasil, costumava sempre criticar a falta de checagem por parte da Justiça Eleitoral sobre os dados de doações de campanha. Muitas vezes, os dados que chegavam para o projeto Às Claras vinham com CNPJs estapafúrdios, o que dificultava estabelecer conexões entre doadores que são filiais da mesma empresa, por exemplo.
É impossível saber que proporção dos dados está comprometida por esse desleixo por parte do TSE. Mas muito dificilmente se ficaria sabendo que parte deles está comprometida se não fosse a singela atitude do Estadão de colocar na internet a planilha que usou. Não foi o jornal que descobriu. Talvez tenha sido algum político, talvez tenha sido o banco, e o descobridor alertou o jornal. Isso rendeu pauta, e das boas. Isso é parte da serventia de colocar os dados à disposição do leitor.
- LEIA MAIS: Inovação sutil, mas importante
Nenhum comentário:
Postar um comentário