No Observatório da Imprensa, meu artigo deu o que falar. A caixa dos comentários está cheia de críticas. Dizem que a imprensa de lá pesa a mão nas críticas a Requião por causa de um corte na publicidade oficial (que não sei se ocorreu), e por isso o governador precisa ter onde responder. Os mais temperados dizem algo como "é verdade, ele não devia usar a TV estatal pra isso, mas ele tem que ter como responder e a TV Cultura de São Paulo se atucanou".
Eu não ia comentar, porque todos os meus melhores argumentos a respeito da parte que considero relevante do assunto já estão ali. Se o caso é o direito de responder, parece-me que a estratégia do governador é mal-focada, porque não se corrige um erro que se aponta nos outros cometendo um erro próprio. Mas aí veio a edição desta semana da Economist, que resumiu tudo no artigo "Whataboutism". Alguns trechos:
- Os propagandistas soviéticos durante a guerra fria eram treinados numa tática que seus interlocutores ocidentais apelidaram de "equantismo". Qualquer crítica à União Soviética (Afeganistão, lei marcial na Polônia, prisão de dissidentes, censura) era respondida com um "E quanto a..." (apartheid na África do Sul, sindicalistas presos, os Contras na Nicarágua e daí por diante).
Não é uma tática ruim. Toda crítica precisa ser posta em contexto histórico e geográfico. Um país que tenha resolvido a maior parte de seus horríveis problemas merece elogios, não chibatadas, pelos problemas que restam. Da mesma forma, comportamentos que possam ser imperfeitos pelos padrões internacionais podem ser bons o bastante para uma vizinhança em particular.
Mas esse recurso pode sofrer abusos - e, no caso dos propagandistas soviéticos, sofreu, e deu margem a piadas subversivas. Por exemplo: alguém liga pra um programa de rádio e pergunta: "qual é o salário médio de um trabalhador manual americano?" Segue-se uma pausa. Então vem a resposta: "lá, eles lincham os negros" - uma frase que, ao tempo do colapso soviético, tornou-se uma sinédoque da propaganda soviética como um todo.
O equantismo parecia ter morrido de morte natural ao final da guerra fria. Mas agora, parece estar voltando.
A coluna se refere à reação russa a questionamentos sobre a forma como o país de Putin tratou os funcionários do British Council local: "E o Reino Unido, que está na guerra do Iraque?". Mas, guardadas as proporções, podia muito bem tratar do tipo de comentário que motivou meu artigo e que se expressa nos comentários a ele...
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