O ministro da Justiça, Nelson Jobim, negou enfaticamente a presença de guerrilheiros das Farc no Brasil.
"Não tem possibilidade. Temos hoje cerca de 20 mil homens do Exército espalhados nos postos de fronteira do Brasil. Está tudo coberto", disse. Mas isso é pouco ou é muito? Ou é suficiente?
Vamos lá. 20 mil homens, considerando uma hipotética divisão equânime em três turnos de oito horas, dá 6.666 por turno. Dificilmente um soldado anda sozinho. Digamos, hipoteticamente, que haja quatro em cada ponto. Isso daria 1.666 pontos ocupados por turno. Mas lembre que não tenho dados pra embasar isso. De dados, só tenho a quantidade de militares dada pelo Jobim e o que segue abaixo.
Vejamos o tamanho das fronteiras com a Amazônia, apenas com três países da mesma Comissão Demarcadora de Limites:
Peru: 2.003,1 km por rios e canais, 283,5 km por linhas convencionais e mais 708,7 km por divisor de águas. São 86 marcos.
Colômbia: 808,9 km por rios e canais, 612,1 km por linhas convencionais e mais 223,2 km por divisor de águas. São 109 marcos.
Venezuela: 90,0 km por linhas convencionais e mais 2.109,0 km por divisor de águas. São 2.440 marcos.
Ou seja: só com esses três países, são 9.278 km. Parece que fica pouca gente. Se cada ponto tiver 4 soldados, seria um ponto a cada 5 km, numa fronteira de floresta e rio, onde fica tudo escuro à noite.
Vá lá: hoje em dia tem o Sivam. Mas não sei se ele capta entrada gradual de homens pela beira do rio ou pelo meio do mato, por exemplo, à noite. Ou disfarçados pela fronteira. Se nem o corte ilegal de madeira, que depende de caminhões para o transporte, se consegue fiscalizar direito, imagine a entrada de homens por uma fronteira maior do que a altura do mapa do Brasil.
Se a conta realmente não fecha, ou o ministro é otimista demais ou está deliberadamente dizendo o que não pode garantir para abafar questionamentos. Homem dos três Poderes (Legislativo, Executivo, Judiciário e agora Executivo de novo), ele sabe há muito tempo que a imprensa trabalha coletando aspas, não necessariamente informações.
Se a conta fecha de alguma forma que eu não percebo (o que não seria incomum), o governo faz mágica com pouco. Ou as Farc se comprometeram de alguma forma a não entrar no Brasil. Não tem como saber.
Como eu não acredito em mágica, continuo achando que a conta não fecha.
sexta-feira, 7 de março de 2008
Pra mim, não fecha a conta
Postado por Marcelo às 21:26
Marcadores: cultura política, dados, mundo velho sem porteira
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