- "What's in a name? A rose, by any other name, would smell as sweet."
("O que há num nome? Se chamarmos por qualquer outro nome a uma rosa, o aroma será igualmente doce.")
--William Shakespeare, "Romeu e Julieta"
Ao longo do dia, após as fortes reações dos políticos à divulgação da lista da AMB de políticos processados, vem se criando um consenso: o problema não é divulgar os processos, que enfim são públicos, e sim chamar isso de "ficha suja", porque estigmatiza nossos nobres representantes e os prejulga, visto que os processos não tiveram julgamento definitivo ainda.
Já tem ministro do STF dizendo que ficha suja remete à ditadura. O oniopinante Gilmar Mendes, por exemplo, acha que isso é "populismo de índole judicial". A questão do direito de acesso a informações públicas passa completamente ao largo desse debate.
Se o problema é basicamente com a expressão "ficha suja", concordo: ela é inexata e semanticamente pesada, sim. Mas é o nome popular, não o oficial. O problema não é da lista da AMB.
A expressão foi popularizada no meio político e entre os jornalistas de política, antes mesmo de a lista surgir. Estadão, 16 de junho: "Britto diz que vai divulgar nome de candidatos com ficha suja". O Globo, 30 de outubro do ano passado: "TRE do Rio veta candidatos com ficha suja".
Houve um longo debate a respeito da divulgação dos processos dos candidatos, nos últimos meses. Na imprensa, nas mesas de bar e nos debates de TV, ele sempre referenciava a expressão "ficha suja", embora ela não fosse e nem seja a expressão tecnicamente usada.
A AMB fala em "candidatos que respondem a processos". A Transparência Brasil chama de "citados na justiça e tribunais de contas". O ministro Ayres Brito, em seu discurso de posse no TSE, falou em "candidatura notoriamente identificada pela tarja de processos criminais e ações de improbidade administrativa que pelo seu avultado número sinalizam um estilo de vida do mais aberto namoro com a delitividade". Mas todo mundo conhece como "ficha suja" mesmo, no popular. Até porque duas palavras cabem melhor num título do que as 30 do ministro Ayres Britto.
Apenas quando a lista se concretiza é que o apelido vira um problema semântico grave a ponto de desqualificar a iniciativa para alguns. E semântica sempre me soou como um jeito bem porquinho de desviar qualquer debate.
Convenhamos: eu pessoalmente prefiro a saída mais descritiva à mais pop. Mas o importante é o conteúdo, e não o apelido. Os dados lá são verdadeiros? São públicos? Há a possibilidade de explicar ambigüidades? O eleitor vai ter mais informação?
Então, qual é o problema? O apelido da iniciativa? Poxa, que absurdo, né? Tira do ar logo...
2 comentários:
Marcelo, mais uma vez vão discutir o sexo dos anjos em vez de botar ordem na casa.
A gente ri ou chora com a ficha do Maluf??
Eu não rio nem choro: observo com muita atenção...
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