quarta-feira, 23 de julho de 2008

Trapalhadas com documentos

Um dos maiores entraves ao direito de acesso a informações públicas no Brasil, talvez até mais do que o fato de ficarmos na mão dos bons bofes do burocrata de plantão, é a desorganização dos arquivos.

Hoje, por exemplo, o governo de São Paulo anunciou ter descoberto por acaso a lista de passageiros do Kasato Maru, o barco que trouxe os primeiros imigrantes japoneses ao país há 100 anos.

Todos passamos meses ouvindo na TV cada detalhe sobre a importância da imigração japonesa no Brasil. Há mais de um mês, quando a chegada do navio completou um século, até o príncipe do Japão esteve no país. Mas o documento só foi achado um mês depois. Por acidente.

No relato da Folha Online:

    Um importante documento para a história da imigração japonesa no Brasil --que completou cem anos em junho passado-- estava perdido em uma das caixas Arquivo Público do Estado de São Paulo. Trata-se da lista com a identificação dos primeiros imigrantes daquele país que embarcaram, rumo ao Brasil, no navio Kasato Maru. Os pesquisadores já conheciam a lista feita na chegada ao Brasil, mas não a feita na saída do Japão.

    "Foi uma coincidência mesmo. Fazíamos um levantamento em 386 caixas de requerimentos da Secretaria de Agricultura, que cuidava da imigração no final do século 19 e no século 20, quando encontramos o documento. Ele está bastante conservado", relata Sonia Troitiño, diretora do Arquivo Permanente.

    O passo seguinte foi digitalizar a lista e disponibilizá-la na internet.

    Quem assina a lista é um funcionário do Consulado do Brasil em Yokohama, em 30 de abril de 1908. Na carta endereçada ao então secretário estadual de Agricultura, a autoridade que, na época, era responsável pelas imigrações, ele explica que há falhas na lista e que não pôde corrigi-las "por falta de tempo".

    "Espero que elas [falhas] serão desculpadas, atendendo a que é a primeira vez que d'aqui se manda imigrantes para o Brasil, e que os costumes desta terra são completamente diferentes dos nossos", escreve o funcionário. Ele cita, por exemplo, o fato de haver diferenças entre as datas de nascimento e as idades dos passageiros --o funcionário afirma que, no Japão, bebês completam um ano quando começa o ano seguinte, e não necessariamente após 12 meses.

Bom, mas pelo menos apareceu. O documento pode ser acessado neste link.

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