Os leitores deste blog, cidadãos conscientes que são, devem estar se deliciando ao assistir a propaganda eleitoral gratuita com seu desfile de personagens imperdíveis e debates propositivos. Hoje, quando interromperem o seu noticiário favorito para a exibição do horário eleitoral, lembre-se: ele é gratuito apenas para os seus personagens, não para nós.
Vitor Abdala, Agência Brasil:
- A Receita Federal deixou de arrecadar R$ 713 milhões com a exibição e transmissão dos programas eleitorais gratuitos na televisão e no rádio, em 2006 e 2007. A perda de arrecadação deve-se ao fato de que a legislação brasileira garante às emissoras deduções no imposto de renda para transmitir os programas de partidos e candidatos, nos anos eleitorais, e as propagandas institucionais de partidos políticos nos anos não eleitorais.
De acordo com o Decreto 3.786, de 2001, as emissoras de rádio e de televisão podem abater, de seu lucro líquido, no imposto de renda, 80% do valor que seria pago por prováveis anunciantes nos horários de exibição desses programas. Com isso, o horário gratuito acaba sendo pago, indiretamente, pela União.
O custo dos benefícios fiscais das eleições deste ano só será conhecido em 2009, mas nas últimas eleições, realizadas em 2006, a Receita deixou de arrecadar R$ 470,8 milhões. No ano passado, quando não houve eleições, mas as deduções chegaram a R$ 242,2 milhões.
Só pra fazer as contas: R$ 713 milhões é cinco vezes o que o governo federal gastou com a gestão das políticas de saúde e quase três vezes o que gastou com a erradicação do trabalho infantil no ano de 2006, segundo os dados do Siafi. Ou, pra pegar um tema que ganhou destaque naquele ano, o governo renunciou em impostos com o horário eleitoral supostamente gratuito 2,66 vezes o que gastou com a segurança do tráfego aéreo.
As emissoras de TV perdem audiência com a propaganda política, mas nem por isso perdem dinheiro. Cristina Charão, do Intervozes:
- Para transmitir a propaganda partidária gratuita, as emissoras de rádio e TV recebem da União uma média de R$ 267 milhões por ano. O pagamento sobre o que a legislação do setor, o Código Brasileiro de Telecomunicações (CBT), prevê como uma obrigação dos concessionários de radiodifusão é feito através de compensação fiscal no cálculo do Imposto de Renda. As emissoras descontam do lucro auferido – sobre o qual incide o IR – o valor que ganhariam com a comercialização publicitária regular dos minutos usados para a propaganda eleitoral.
O horário eleitoral gratuito é um baita negócio para políticos e empresas de comunicação. Só quem se ferra é quem não está a fim de ver o desfile de aberrações ou precisa de serviços que dependam de dinheiro público.
Como é obrigatório, e como é um jeito de conhecer o "lado A" dos candidatos, veja estas dicas do cientista político Carlos Melo.
3 comentários:
"Só quem se ferra é quem não está a fim de ver o desfile de aberrações ou precisa de serviços que dependam de dinheiro público."
É revoltante. É revoltante!
Isso tem que mudar! Mas como? :-(
Tem um jeito: os nossos queridos representantes votarem uma mudança. Mas é dificílimo eles votarem uma mudança que corte qualquer vantagem que tenham. Portanto, se eles forem votar uma mudança, pode ter certeza de que vai ser pra consumir ainda mais dinheiro público.
É, prezado Marcelo, para mim está claro que nessa imensa
farra-do- boi eletoral, somente o povo leva a pior. Todos os poderosos ganham ou levam vantagens. Ao povo restarão câmaras recheadas de incompetentes e corruptos, o que irá gerar ainda mais desigualdades sociais e corrupção. A bola de neve dos desmandos e mazelas só está aumentando. Dizem que o povo tem os políticos que merece, mas será que o povo brasileiro é tão desgraçado para ter de descer tão baixo? Abraço.
PS: Tomei a liberdade de colocar este blog entre os meus favoritos, ok?
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