quarta-feira, 6 de agosto de 2008

A imprensa bovina do estado mais politizado

Há séculos, eu costumo dizer que o Rio Grande do Sul é o túmulo do jornalismo. Saí de lá justamente porque não há mercado pra fazer reportagem. Ainda mais sobre política. Lida-se muito mal com informação por lá. Há uma polarização na política, mas no nível figadal das opiniões encarniçadas.

Quando fizemos o Excelências, em 2006, nem uma linha a respeito saiu nos jornais locais. (OK, saiu um editorial de um parágrafo na Zero Hora, sem dar o link. Mas quem é que lê editoriais?) E não é porque eu estava na coordenação: é que o projeto trazia informações importantes sobre a atuação dos deputados federais do estado. Proporcionalmente à quantidade de eleitores, era o único estado que tinha MENOS acessos do que gente votando.

Na época, alguém comentou no blog do Deu no Jornal que lá o pessoal é tão politizado que "não precisava" das informações do Excelências. Pra mim, porém, politização sem base em informação não passa de torcida. É comum por toda parte do Brasil, claro. Mas qualidade zero.

Hoje, os caras do A Nova Corja metem o dedo fundo na ferida:

    Cobertura dos Jogos Paradesgovernados
    from A Nova Corja by Rodrigo Alvares

    Alguém precisa avisar a imprensa gaúcha que o Rio Grande do Sul não é a China. Até os cegos em Seattle já entenderam como se faz jornalismo com a Rede Mondial de Computadores. Os pulitizadus precisam que a Folha, o Estadão, a Veja e até a carta Capital preencham as lacunas e o silêncio que reina no Estado.

    Para começar, ninguém se importa com o Bovinão, mas os jornais e revistas do centro do país insistem em fazer matérias para explicar o fenômeno de escândalos que o desgoverno Yoda apresenta a cada semana.

    Óbvio que a Mídia Má, Feia e Bobona deslocou todos os seus recursos - um punhado de repórteres - para Porto Alegre tendo em vista a derrubada de desgovernadora. É um absurdo que esse pessoal saia por aí fazendo perguntas e descobrindo coisas dificílimas para a mídia local conseguir.

    Uma intervenção é mister de ser feita não só no governo, mas também na mídia bovina. Nem preciso bancar o petista e escrever que isso é culpa do monopólio da RBS, porque não é. O apagão jornalístico é de todos os veículos.

    Mas é inconcebível que o presidente da ANJ admita que o seu jornal leve tantos furos e se resigne a publicar um “De acordo com a Folha” para cada volta que a Zero Hora leva e não investigue o que acontece não só nesse, mas em todos os governos.

    Porque não dá para crer que ninguém nas redações de Porto Alegre não tenha se atinado em coisas básicas de reportagem, como procurar o cartório onde está o registro da casa de Yeda, ligar para Lair Ferst ou simplesmente perguntar quem diabos comprou o tal apartamento em Capão da Canoa ou o Passat da desgovernadora.

    Mais uma vez, isso não é uma questão partidária ou ideológica. Mas viver 40 anos sem concorrência é um caso grave e o silêncio sobre as falcatruas, constrangedor. Aí me aparecem esses repórteres do centro do país e publicam coisas que os pulitizadus não estão interessados em saber ou que os outros saibam.

    Parece que todos no Bovinão estão mais interessados é em garantir o seu e seguir sua vidinha sem incomodar a catrefa que comanda a vala há décadas. Nada moralmente mais brasileiro.

3 comentários:

Anônimo disse...

O Nova Corja é um diamante da blogosfera política. Pelo menos é o que considero.

Agora, não acho que torcida política seja algo mal para o debate. É do fanatismo que tiramos informações subjetivas. O eleitor está mais esperto do que se supõe e percebe essas nuances. Lógico, nada disso justifica a omissão dos veículos de comunicação gaúchos, mas já é um alento.

Helô disse...

É que nós paramos no Tempo e o Vento... Basta ler meia dúzia de páginas que a gente entende o que acontece por aqui.

O que dói mais é saber que pessoas como tu tem que virar as costas para nossos pagos.

Sou otimista: um dia a ficha cai (só não tenho tanta certeza se estarei aqui prá ver... mas isso já é outro assunto.)

beijo e obrigada.

Marcelo disse...

Tainã: eu acho que a lógica de torcida não seria ruim se o debate fosse bem informado. Infelizmente, acho que muitas vezes briga de torcida na saída do estádio costuma ser mais esclarecedora que o debate político torcidarizado que se vê à solta pelo brasil.

Helô: o que me deixa otimista é ver o que os caras da Nova Corja fazem. Porque eles continuam aí, levando a vida, fazendo o que acham certo e esculachando o que acham errado.