O Supremo Tribunal Federal, por 9 votos a 2, não vê problema nenhum em ver candidatos de notórios antecedentes concorrendo. Mas o legal mesmo foi assistir às argumentações. A questão do direito de acesso a informações públicas passou longe da argumentação, pelo menos nos quatro últimos votos, que acompanhei com um pouco de atenção.
Em certa hora, um senhor ministro de notório saber jurídico argumentou que imputar o adjetivo "sujo" a quem não foi julgado é carimbá-lo de criminoso. Já falei da questão semântica outro dia, mas eu não conseguia deixar de lado a lembrança de que um cidadão que quiser fazer concurso para lixeiro, se tiver um processo pendente, não pode fazer concurso. Não conseguia, também, deixar de lembrar de muita gente boa que conheci que, por circunstâncias da vida, ficou com contas pendentes e foi pra lista do SPC - o famoso "nome sujo na praça".
Nunca vi ninguém ser tão condescendente com cidadãos mais simples quanto os ministros são com os candidatos enrolados. Basicamente, está garantida a suposição de inocência a todos os brasileiros, mas os que puderem pagar melhores advogados são mais supostamente inocentes do que os outros.
(Pra falar a verdade, até já vi condescendência com cidadãos mais simples em caso de terem ficha complicada e fazerem concurso, mas basicamente quando por um azarão desses do Brasil a garantia deu errado. No Rio de Janeiro, um cidadão com pendências judiciais certa vez entrou na Justiça para obter uma liminar garantindo-lhe o direito de fazer concurso para a polícia mesmo tendo pendências criminais. Conseguiu. Por mera coincidência, acabou se tornando o "Zero Um", torturador da equipe do jornal "O Dia" em maio.)
O ministro Habeas Mendes não apenas foi contra facultar aos juízes vetar esses candidatos como também citou um teórico do direito segundo o qual o grande herói no julgamento de Jesus Cristo foi Pilatos, que lavou as mãos. Suponho que, por tabela, tenha comparado os candidatos de notórios antecedentes ao superstar.
Em homenagem ao ministro, segue abaixo uma reinterpretação mais ou menos recente da faixa "The Trial", de Jesus Christ Superstar, onde Pilatos é o personagem central. Ela é BEM mais pesada em termos de imagem do que o original de 1973, mas foi a melhor que eu achei no YouTube.
quarta-feira, 6 de agosto de 2008
Tá liberado
Postado por Marcelo às 22:14
Marcadores: cultura política
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