segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Acuma? (Ou: de olho na aspa. Ou: Pangloss e o zepelim)

Algumas cidades brasileiras tiveram 100% dos votos computados para um só dos candidatos. Neste despacho da Agência Brasil, o presidente do TSE tentou tranquilizar os espíritos de porco que poderiam ver nisso um possível indício de fraude eletrônica:

    Ao comentar sobre casos ocorridos em alguns municípios, com um único candidato aparecendo com 100% dos votos, o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Carlos Ayres Britto, explicou que a candidatura do adversário pode estar sob análise da Justiça Eleitoral. "O outro candidato estava sub judice", justificou.

    Um desses casos ocorreu em Cocalzinho de Goiás (GO), onde o atual prefeito, Salomão Costa Araújo (PTB), obteve 100% dos votos, enquanto o outro candidato, Armando da Silva (PSDB), não teve registrado nenhum voto. De acordo com Ayres Britto, nesse tipo de situação, os votos do candidato sub júdice são contados, mas não divulgados, e o resultado da apuração é provisório, já que a Justiça Eleitoral ainda tomará uma decisão definitiva sobre a candidatura.

Então tá bom.

Outros candidatos sub judice, porém, tiveram seus resultados claramente demonstrados. É o caso de Carminha Jerominho, candidata presa que teve sua candidatura rejeitada no Rio de Janeiro. Nada disso a impediu de ser a 23ª mais votada na capital de todos os cariocas. Podem não ser casos exatamente comparáveis. Mas não consigo entender por que motivo se divulga os votos vereáveis da Batgirl e se dá 100% de votos prefeitáveis para o goiano.

Numa impressionante velocidade de cinco dias, o presidente do TSE também deu uma guinada de 180º em sua opinião sobre o voto facultativo. Neste outro despacho da Agência Brasil, ele diz que mudou de idéia: "A cultura brasileira é cultura brasileira. Ela é mais compatível com o modelo do voto obrigatório do que o modelo do voto facultativo." Vejamos o que ele disse no dia 1º, no debate que segundo ele mudou sua cabeça:

    “Eu entendo que temos um encontro marcado com esse tema no futuro e a legislação consagrará, como em outros países, a voluntariedade do voto. O eleitor comparecendo porque quer participar efetivamente do processo eleitoral e se engajando nas campanhas com mais conhecimento de causa e determinação pessoal”, disse Britto.

    “Como rito de passagem, a obrigatoriedade do voto deve permanecer ainda por mais tempo. Até que a democracia se consolide e que a economia chegue mais para todos”, ressaltou.

(Este blog sinceramente espera que ele mude de idéia sobre a conveniência do financiamento público de campanhas - proposta que, a pretexto de sufocar o caixa-dois, torna ilegal o caixa-um. Melhor solução seria tomar medidas para tornar o caixa-um mais transparente, inclusive em tempo real. Mas ainda prevalece no Brasil a doutrina Delúbio: "transparência assim é burrice".)

Outra declaração interessante do ministro Ayres Britto diz respeito à falta de incidentes graves na eleição, exposta por ele triunfalmente em entrevista coletiva:

    "Ela transcorreu sem graves incidentes, portanto sem que as Forças Armadas tivessem que intervir nos locais [ 460 municípios] onde estavam posicionadas. Não houve uma única morte, nem emboscadas ou assassinatos"

Gozado. Eu jurava ter lido notícias de vários casos ocorridos desde sexta-feira. Talvez estas notícias sejam ilusão de ótica, ou o conceito exato dos termos usados pelo ministro não esteja ao alcance de leigos:


Ou talvez eu seja apenas um espírito-de-porco. Não sei. Vocês acham?

3 comentários:

Castilho disse...

Primeiramente, parabéns pelo seu blog! Desculpa comentar algo fora do assunto, mas vc podia colocar um RSS no site... ia facilitar a vida de quem lê mais de 20 blogs por dia. Abraço!

Marcelo disse...

Oi, André. Grato pela visita. O blog tem um RSS, sim: no Firefox, clique no loguinho do RSS. Ou use este link: http://evocecomisso.blogspot.com/feeds/posts/default

Castilho disse...

Consegui, Marcelo! Tá adicionado! Obrigado pela atenção. Ganhou um leitor fiel :)
Abraço!