terça-feira, 21 de outubro de 2008

Saída à brasileira

Os nossos geniais senadores, enquanto constrangidamente demitiam mais alguns parentes e de lambugem davam um pé no traseiro do advogado que arrumou um buraco pra manter o nepotismo, analisavam na CCJ mais uma medida genial que com certeza vai ajudar a aumentar a segurança no país.

Para evitar que as nossas cidades fiquem cada dia mais pichadas, o projeto proíbe a venda de tintas em spray a menores de 18 anos. Esse tipo de venda passa a ser crime. Pra comprar spray, será preciso apresentar carteira de identidade e o nome do comprador vai ter que aparecer na nota.

O projeto já vem com dois furos básicos. Em primeiro lugar, ele pressupõe que os sprays usados em pichações são usados por quem compra. Em segundo, ele pressupõe que os pichadores sejam todos menores de idade - e, ainda por cima, menores de idade que economizam seus trocados para realizar o sonho de escrever palavras incompreensíveis em paredes alheias. Qualquer desvio disso - seja roubo dos sprays, seja algum outro sujeito comprar o spray em nome do moleque, seja o pichador ser um barbado maior de idade - está completamente fora do alcance da lei.

É mais um exemplo da mentalidade "na dúvida, proíba-se", que reina no Brasil nas questões regulatórias e leva a uma perda de tempo incalculável discutindo medidas inócuas.

Porque aqui no Brasil é assim: se o estado não consegue fiscalizar o trânsito pra evitar mortes, proíbe-se a bebida. Se o jornal fala mal de um político em época de eleição, manda-se apreender a tiragem (e depois, quando fica feio, volta-se atrás). Se não se consegue fiscalizar o que os políticos fazem na internet, proíbe-se o uso da Web nas campanhas (e depois, quando fica feio, volta-se atrás). Se a modelo posa seminua com um terço, proíbe-se a reprodução da foto. Proíbe-se até videogame.

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