O sempre arguto Vinicius Torres Freire foi direto ao fulcro da questão das finanças das montadoras em seu blog, hoje. Semana passada, a Anfavea anunciou que as vendas caíram pela primeira vez desde 2006. Mas caíram de patamares sucessivamente recordistas. Então, uma queda de 2% significa apenas que reduziria um pouquinho o recorde de vendas. Mas ainda seria recorde:
- Mas, para atingir a meta, as fábricas vão ter de vender 302 mil veículos em novembro e dezembro, o que equivale a vender 24% a mais do que a média mensal do ano, até outubro. Mesmo com o auxílio do governo-BB, o crédito ainda vai estar mais caro, os prazos de financiamento estarão mais curtos e o consumidor menos animado. Seria uma façanha vender 302 mil. Porém, a indústria não vai exatamente mal, para dizer o mínimo. Sim, viveram quase uma década de estagnação: apenas em 2006 as vendas empataram com as de 1997, o melhor ano até então (1,9 milhão de veículos). Mas houve recorde em 2007 (crescimento de 27,8%) e, se as vendas de final de ano ficarem na média de 2008, ainda cresceriam 19,3% (para 2,937 milhões de veículos). Outro recorde, com velocidade reduzida, mas recorde.
Para deixar mais claro o argumento, ele fez até um gráfico dos veículos novos emplacados no Brasil desde dezembro de 2006:
Basicamente, portanto, nossas amigas montadoras choram de barriga cheia. Ou tanque, que seja.
De resto, vale ler o meu post do outro dia sobre vendas de carros, engarrafamentos e o que de fato é desenvolvimento: Quebrando a lógica do carro. Especialmente se você levar em conta esta notícia de ontem:
- Temporal faz congestionamento chegar a 201 km no início da noite
Choveu forte na tarde desta quinta-feira na capital paulista e o trânsito deu nó na saída do paulistano do trabalho. Segundo a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) o congestionamento chegou a 201 quilômetros às 19h. O índice correspondia a 24,1% dos 835 km de vias monitoradas pela CET, quando a média do horário é de 21,9%. Por volta de 13h, o trânsito já estava ruim com lentidão de 130 quilômetros, muito acima da média do horário.
Sim, o temporal foi o fator imediato. Mas o fator crônico é o excesso de carros. Que é estimulado por diversos fatores. Um é a cultura do carro. Outro é a falta de investimento em transporte público. Mas não se pode perder de vista a extrema sensibilidade de sucessivos governos aos choros de tanque cheio da indústria automobilística, facilitando o crédito para os escravos voluntários dos castelos de lata e até botando a mão no bolso quando ela resmunga que seus lucros podem ser um pouco menos fabulosos do que o esperado.
Nenhum comentário:
Postar um comentário