quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Questões de suma importância

O Senado rejeitou hoje a sugestão do deputado Gerson Camata de dispensar o terno e a gravata nas sessões. Segundo Camata, a rejeição foi porque a Mesa decidiu que o paletó é imprescindível à dignidade do Senado. Só ele, na Mesa, votou a favor da proposta.

Nas doutas palavras do sucessor de Renan Calheiros, o galante Garibaldi Alves Filho:

    "A proposta não encontrou a receptividade que era esperada, tendo em vista que os senadores já estão acostumados (com o terno e a gravata). Nesse ponto, eles são conservadores. Eu estou inscrito no grupo dos que acham que não chegou a hora de abrir mão do paletó e da gravata."

É claro que, se tivesse passado a proposta (que, convenhamos, é quase bobinha embora vise poupar energia), ninguém impediria de usar gravata nem o dr. Garibaldi e nem quem quer que também quisesse. Mas o Heráclito Fortes não precisaria mais passar pelo constrangimento de pedir emprestado ao seu motorista um pedaço de pano pra amarrar no pescoço.

Ocorre que, na singular metodologia de interpretação de texto do analfabetismo funcional institucional à brasileira, sutileza não tem vez. Permissões que não obrigam não servem. Ou obriga-se ou proíbe-se - meio termo fica por conta da conveniência.

É por isso que ponto facultativo é feriado. É por isso que, se a lei faculta ao candidato prestar parciais de suas contas ao longo da campanha, quase ninguém presta. Não é obrigado a prestar, é? Na verdade, muita gente não presta nem quando é obrigado, se não ganhou a eleição.

Mas, voltando à decisão da Mesa do Senado, não consigo deixar de pensar nos seguintes atos da Mesa:

* Punir servidor que denunciou o Renan Calheiros por manipular seu processo de cassação, pode.

* Criar 97 novos cargos na surdina, pode - mas só enquanto não ficar muito feio, porque senão dá na vista e tem que voltar atrás.

* Fazer que não viu a determinação antinepotismo, pode - mas só enquanto não ficar muito feio, porque senão dá na vista.

* Propor brecha pra manter parentes depois da lei antinepotismo, pode, na estratégia do popular personagem João - aquele que não pode aplaudir a medida por não ter braços.

Agora: liberar a manga de camisa é um absurdo e não pode porque o Senado ainda não está preparado para isso. Já chega a casa vizinha, onde o Pompeo de Mattos circula de bombacha (pode) e Mão Branca queria andar de chapéu de couro (não pode). Onde já se viu uma coisa dessas, não é mesmo?

Ao menos no tocante ao vestuário, a Câmara Alta exige respeito.

3 comentários:

Carol Rocha disse...

Educação precária + caráter duvidoso = "singular metodologia de interpretação de texto do analfabetismo funcional institucional à brasileira"

Barone disse...

É meu caro... esta é a cara dos nossos digníssimos mandatários.

Helô disse...

caraca... eu cheguei a ensaiar um comentário no "carta de aviso", mas depois achei que... sei lá, nem era tão pertinente assim. mas agora escrevo o que deletei e informo: vale pelos dois!

"achei que já tinha tomado cerveja que chega na hora feliz com colegas. agora concluo que não tomei sequer o suficiente para deglutir o que escreveste."

indo prá cozinha abrir uma serramalte. só assim...