O blog Cinema em Produção traz um interessante artigo com a cobertura de uma conferência sobre os desafios culturais e econômicos para o cinema brasileiro, ocorrido neste final de semana em São Paulo. Segundo os conferencistas, dinheiro é o que não falta no cinema brasileiro. Pra atiçar a curiosidade, leiam essas frases do secretário municipal de Cultura de São Paulo, Carlos Augusto Calil:
- "No Brasil, tudo é ao contrário. Tem gente ganhando dinheiro e a atividade está indo para o buraco. Há negócios, mas não há mercado"
"Na época da Embrafilme, havia uma dependência de 70%, 80%. Hoje é mais de 100%"
"O cinema brasileiro é escolhido por comissões de bancos que não entendem nada de cinema, é bancado pelo governo e 100% incentivado."
"Falar em 100 filmes por ano é uma tolice, é distribuir dinheiro. É uma realidade baseada em uma outra conjuntura, do tempo das pornochanchadas. Essa política não dá resultados, isso não é competitivo hoje"
Isso sem falar que a intermediação governamental do incentivo ao cinema é uma das atividades mais gratificantes do serviço público brasileiro, como comentei aqui outro dia.
4 comentários:
A pergunta é: por que os brasileiros não vão ao cinema para assistir filmes brasileiros?
Tenho palpites: detesto a temática sobre a riqueza dos pobres; detesto batuque; "caminhando e cantando e seguindo a canção" é insuportável; a lascívia exposta pelos personagens ofende; etc.
Há exceções, que, não por coincidência, fizeram muito sucesso na última década: todos dos Trapalhões, todos da Xuxa, e para não dizer que não falei de flores: "Os dois filhos de Francisco" e "Bezerra de Menezes - diário de um espírito".
A questão é a lógica comercial - da qual o negócio do cinema não pode descuidar, obviamente.
A intenção, digamos assim, de qualquer política de incentivo à cultura deveria ser viabilizar a produção e exibição de obras que tenham apelo comercial menos óbvio, que de outra forma não teriam como ser feitas, e tornar o setor independente ao longo do tempo.
Exatamente por isso é que eu acho que o filme da Xuxa não deveria precisar de incentivo à cultura: ele se paga, ou pelo menos tem mais facilidade de buscar recursos fora da bolsa da Viúva. Mas tal bolsa está ali, na calçada, de zíper aberto, na frente dele.
Tem muita bomba sem noção ou cheia desses pontos que apontaste que leva incentivo à cultura. Mas também tem pérolas que vão fora com a água do banho. Por exemplo: "Estômago", do diretor Marcos Jorge, é um filme excelente; tem roteiro bem sacado, situações verossímeis, atores talentosos, personagens carismáticos, música cuidadosa.
Ocorre que, como não tem nenhum apelo pop (caso da Xuxa e dos sertanejos) ou "ideológico" (caso do Bezerra de Menezes) mais óbvio, quase ninguém quis arriscar exibir o filme no país. A lógica é simples: não tem gancho na TV, então não chama gente por osmose, então pra que arriscar?
Ele teve apenas sete cópias distribuídas no país inteiro. Não apenas pouca gente teria interesse automático: também pouca gente poderia ver se ouvisse falar bem por acaso.´
Tem lógica comercial, concorda? Mas é exatamente pra contrabalancear a lógica comercial automática que se inventam leis de incentivo a qualquer setor.
Entre lá no blog da Belisa, tem uma discussão interessante rolando.
Digitei: blog belisa no buscador, e necas!
A Belisa Figueiró é a autora do blog http://cinemaemproducao.blogspot.com , que fez a cobertura da tal conferência.
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